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A saída do Rio Grande não está em “Destino e utopia” do Governador Tarso

[A saída do Rio Grande não está em “Destino e utopia” do Governador Tarso]

Neiva Lazzarotto- Vice-Presidente do PSOL-RS

Em seu artigo ?Destino e utopia?(ZH 26/06) o Governador Tarso Genro faz acusações ao movimento sindical e à esquerda como se o problema da sustentabilidade financeira do estado fosse da nossa responsabilidade. O Governador recorre a um ?maniqueísmo infantil? ao considerar de direita o movimento sindical combativo porque defende as conquistas dos servidores e o serviço público.

Tarso utiliza-se de argumento falacioso quando diz que a decadência dos estados grego e português se deve a sua captura por corporações subsidiadas por toda a sociedade. Numa analogia, ele aponta o funcionalismo público como a corporação responsável pelos problemas do Rio Grande. Na verdade a corporação responsável pela brutal crise que vemos na Europa e pelo principal gargalo do orçamento do Brasil - a dívida interna de 1,7 trilhão de reais, é o sistema financeiro. Este sim captura e ?coloca de joelhos? países e estados como o Rio Grande do Sul, quando seus políticos não tem coragem de enfrentar as verdadeiras causas da crise estrutural do sistema. Este sim é o grande responsável pela incapacidade dos estados de cumprirem com sua função social pública.

Se tomarmos as medidas de Zapatero, na Espanha, de Sócrates em Portugal, do governo Grego, e as do próprio pacote de Tarso, veremos que são todas da lógica do Estado Mínimo neoliberal: reforma com privatização da previdência, cortes nos salários ( neste caso, das RPVS ? pequenos precatórios), terceirizações. Todas elas para garantir o ?pagamento religioso? das dívidas com o sistema financeiro, com o FMI e com o Banco Mundial. Assim como a dívida gaúcha com o governo Federal hoje estimada em 35 bilhões. São dívidas com regras fixadas para garantir os lucros dos bancos, mesmo que para isso o estado ou o país tenham que reprimir violentamente o seu povo.
Tarso desembarcou de uma longa viagem na qual manteve encontros com a intelectualidade em quem se referencia. A mesma intelectualidade que inspira uma social-democracia decrépita ? Zapatero do PSOE(Espanha) e Sócrates do PS(Portugal), que não teve a coragem para ir na raiz do problema da crise. Uma falsa esquerda que foi derrotada nas últimas eleições, porque executou os ditames do FMI.
Não queremos ser a Grécia, nem Portugal ou a Espanha, amanhã.

O Rio Grande tem saída. Mesmo que Tarso não queira, ela passa por:

- rever as isenções e subsídios que o Estado concede aos empresários, para evitar o que aconteceu com a Azaléia;
- exigir renegociação da dívida com a União;
- exigir o ressarcimento das perdas bilionárias com a Lei Kandir;
- cumprir os percentuais constitucionais de 10% para a saúde e 35% para a educação.
Se o movimento sindical pudesse aconselhar Tarso lhe diria: não siga o caminho dos governos europeus, para que as praças não voltem as ser tomadas por quem constrói a riqueza e o destino desse grande estado.

Neiva Lazzarotto
Vice-Presidente do PSOL-RS


Artigo enviado para o jornal Zero Hora no dia 27.06.2011, mas não publicado, por razões óbvias - o Grupo RBS apoiou o pacote do governo Tarso e mais do que isso, publicou editorial no dia posterior a votação do pacote enaltecendo a coragem de Tarso por ter feito a reforma da previdência que outros governadores ( leia-se Rigotto e Yeda) não conseguiram.

Fonte: http://www.profneiva.com.br
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