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A TAREFA DO PSOL: DERROTAR O BOLSONARO SEM DERROTAR A ESQUERDA SOCIALISTA

[A TAREFA DO PSOL: DERROTAR O BOLSONARO SEM DERROTAR A ESQUERDA SOCIALISTA]

Reflexões sobre a atual polêmica que toma conta dos debates internos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Que a conjuntura é difícil ninguém nega, pois, o Brasil atravessa um dos seus piores momentos. Vivemos uma confluência de crises que se interagem, se intensificam e castigam nosso povo. A miséria e o desespero vão tomando conta das cidades. Cresce a população em situação de rua, a fome, a violência e a pandemia segue espalhando o medo e a dor da morte.  

É nesse cenário aterrorizante que elegemos uma prioridade para as lutas nas ruas e nas urnas: derrotar o bolsonarismo. Essa é a tarefa central e ninguém duvida ou questiona. É importante hierarquizar as tarefas, mas sabemos que garantir a defesa de um programa popular, com elementos anticapitalistas, em uma sociedade que atravessa o desafio de mudar o sistema para não ser extinta, não é qualquer coisa. Dizer isso não é um exagero retórico, dizer o contrário disso é negar a ciência, isto é, a cloroquina do desenvolvimento a qualquer custo. 

Hierarquizar uma tarefa não pode significar não compreender a importância das demais. Construir uma frente para a superação do capitalismo não é tarefa para outro dia, já que, o sucesso ou não dessa tarefa política determinará se teremos planeta. Sem planeta não tem futuro e sem futuro, qualquer tarefa política revolucionária perde o sentido.

A construção da Frente Única para as lutas do período é unânime em nosso partido. A divergência toma corpo quando se discute uma Frente Eleitoral com Lula desde o primeiro turno. A questão não é apoiar ou não Lula, o que se debate, para ser muito sincero, é quando apoiar Lula.

Há cenários em que eu estaria na linha de frente do apoio ao Lula desde o primeiro turno, mas a realidade não tem confirmado que esses são os mais prováveis. Seria preciso apoiar o Lula caso uma candidatura própria do PSOL significasse levar ao segundo turno a direita e a extrema-direita, não temos nenhuma evidência de que esse cenário tem se confirmado. Em outro cenário, onde Bolsonaro estivesse com a popularidade imbatível, com as condições para fechamento do regime colocadas - apoio do STF, mídia e o imperialismo norte-americano, teríamos que ter uma frente democrática contra o fechamento do regime. E assim, Lula seria um bom nome para representar essa frente.  

Tem água para rolar em baixo da ponte até as eleições de 2022, mas hoje o apoio ao Lula desde o primeiro turno não é uma necessidade tática. Todas as pesquisas mostram que o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) está com muita tranquilidade eleitoral para chegar ao segundo turno. Nesse cenário, no segundo turno, apoiaríamos sem dúvidas qualquer candidatura do campo progressista contra o bolsonarismo.

O apoio da esquerda socialista ao Lula é mais fruto de vontade do desejo de “participar” das mesas, onde o nosso programa é ridicularizado, do que de fato uma necessidade eleitoral. Há no interior do PSOL motivações diferentes para apoiar o Lula desde o primeiro turno: para alguns é uma motivação puramente eleitoreira, para outros é preciso sinalizar o apoio e deixar o PT dizer que não aceita nosso programa, para ter algum tipo de “permissão” política para construir uma candidatura. Os que defendem isso temem o isolamento político. A marginalidade política causa traumas e distorções na percepção da realidade. Mas essa tática é na prática desarmar a nossa militância, desarmar todo o PSOL, e a depender do avanço das negociações mais mesquinhas, a composição pode tornar-se irreversível, e então, nos levarão ao processo eleitoral com um programa social liberal.

Propor um programa ao tempo que se propõe um nome que diz publicamente, há muitos anos, rejeitar esse programa, causa mais confusão política e fragilidade as organizações revolucionárias do que se imagina. É o tipo de confusão que coloca em questionamento a tarefa histórica do PSOL de construir a reorganização da esquerda brasileira.

Se o cenário político que está colocado agora se mantém ou se suas tendências se confirmam, há necessidade de uma candidatura que defenda um programa verdadeiramente de esquerda, com clareza de que em 2016 vivemos um golpe e o papel nefasto que a Operação Lava-Jato cumpriu para distorcer as eleições de 2018, é central para que pressionemos o debate presidencial para um programa popular com elementos anticapitalista. Alguém vai precisar dizer a verdade nas eleições de 2022.

É preciso que o PSOL apresente seu nome agora para que não estejamos desarmados para enfrentar as tarefas que o futuro pode nos colocar. Afinal, quais correntes do nosso partido aceitariam ser representadas por um programa social liberal nas eleições presidenciais? É preciso escolher: ou abre-se mão de apoiar Lula desde o primeiro turno ou abre-se mão de um programa de esquerda. 

É preciso que pensemos o agora com o olho no futuro:

1. Apresentar uma pré-candidatura agora é garantir primeiro que não estaremos desarmados caso Lula e o PT siga rejeitando o programa de esquerda.

2. Ter autoridade política para enfrentar os desafios políticos e programáticos que serão colocados independente de quem vença as eleições de 2022.

3. Para que a política de conciliação de classes não vele a esquerda socialista junto com sua tarefa inglória de anestesiar a nossa classe.

Como dizia Belchior: “O passado é uma roupa que não nos serve mais”.

Os tempos são outros, o mundo mudou. Não há mais espaço para que não haja luta de classes aberta. Quem tentar anestesiá-la será desmoralizado com uma velocidade absurda. Devemos tirar lições da História, o ajuste fiscal depois de 2015 pode nos ensinar muita coisa sobre 2016. Precisaremos de autoridade política e um programa de esquerda para enfrentar o que virá. 

É preciso pensar no futuro: a esquerda socialista encontra no presente condições políticas e eleitorais para defender seu programa no primeiro turno das eleições e não pode abdicar dessa tarefa. Apoio ao reformismo de baixa intensidade só no segundo turno, caso não estejamos lá.


Everton Vieira, membro da Executiva Estadual do PSOL/SP e da Coordenação Nacional do Fortalecer o PSOL.

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