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Apontamentos sobre a conjuntura e a construção do PSOL e Enlace RS

Carmen Ribeiro

O Brasil na era neoliberal
 
1. A globalização da economia nesse início de século é uma realidade, dirigida pelo capital financeiro e de caráter especulativo. A concepção neoliberal defende o mercado como auto-regulador, submetendo a humanidade e a natureza à sua lógica. Foram deslocadas para o plano privado decisões e funções de natureza pública. Serviços públicos de caráter universal foram transformados em mercadorias, setores essenciais de infra-estrutura foram privatizados, produzindo uma enorme desigualdade social, agravando o nível de concentração de renda e riqueza e ampliando a exclusão social. 
 
2. Hoje enfrentamos além dos aparatos de coerção política das classes dominantes, a hegemonia destas sobre importantes setores da sociedade, especialmente da mídia que molda a subordinação ideológica. São mecanismos e instituições que presentes na sociedade influenciam a aceitação da ?ordem social?, produzindo, sobre os setores populares, um nível de controle adicional à repressão. Mas resiste um movimento vivo das mídias alternativas, especialmente o movimento das rádios comunitárias.
 
3. No governo Lula, assim como nos governos anteriores, a dependência de capitais externos e a manutenção de uma taxa de juros extremamente elevada têm impactos destrutivos nas finanças públicas e conseqüentemente inibe o crescimento econômico. As políticas de ajuste adotadas em função de acordos com o FMI levaram a priorizar o pagamento dos encargos da dívida, sacrificando investimentos em infra-estrutura, em ciência e tecnologia e em políticas sociais. 
 
4. Lula representa uma segunda etapa da implantação do projeto neoliberal. Na primeira etapa (1990-2002) foram quebradas amarras legais permitindo ao capital avançar sobre direitos sociais consagrados na Constituição de 1988, igualmente foram operadas medidas de ordem financeira e a privatização de ativos estatais.  A segunda etapa, capitaneada por Lula, consiste em manter e aprofundar as diretrizes econômico-financeiras, desarticulando o movimento social.
 
5. O governo Lula vem, desde o 1º governo aplicando políticas antipopulares, atacando conquistas e direitos sociais e concedendo espaços estratégicos de gestão a representantes do grande capital industrial e agrário. Paralelamente, o PT foi assumindo a articulação política de governo, sucumbindo a interesses pragmáticos de gestão ao lotear cargos na estrutura pública e empresas estatais, estabelecendo de forma clientelista e fisiológica ? até mesmo patrimonialista - as condições de construção de uma ?base aliada? no Congresso Nacional. 
 
6. Os ?Diálogos da Concertação Social? realizados no primeiro governo, em quase todo o Brasil, construiu as bases para o lançamento do PAC. Neste espaço o grande empresariado, as centrais sindicais, parlamentares da base aliada e governos locais construíram a pauta das prioridades de investimento em obras de infra-estrutura e acordaram consórcios regionais para o financiamento de obras, especialmente de saneamento. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), maior trunfo do 2º governo Lula, vêm acompanhado das parcerias público privadas (PPPs), para os quais o governo usará recursos do FGTS. O único recurso novo na agenda de investimentos federais.O PAC ainda congela os salários dos servidores públicos federais para reduzir as despesas de pessoal em relação ao PIB. A política para o salário mínimo, que seria um instrumento de efetiva distribuição de renda, ao ser reajustada pela inflação mais a variação do PIB de dois anos anteriores, se constitui em medida de contenção salarial, além de não alterar em nada a atual distribuição de renda no país.
 
7. O esforço do governo Lula de no primeiro mandato assumir a pauta de reformas propostas pelo governo FH como o receituário necessário para a recuperação econômica e social do país, produziu a Reforma Previdenciária, a maior derrota do movimento social desde as privatizações do governo FHC. Esta política que inicialmente ainda contou com a resistência tímida das direções dos movimentos sociais, no 2º mandato é acelerada nas articulações entre empresários e trabalhadores negociando a Reforma Sindical e Trabalhista. O foco é a modernização da CLT, apontada como entrave ao desenvolvimento. E a moeda de troca para as centrais sindicais é a negociação coletiva nacional, onde é preservado o instituto do imposto sindical e concentrado  o poder contratual nas grandes centrais. Na pauta para negociação encontramos o direito de greve dos servidores federais e a subordinação de direitos garantidos na CLT aos acordos nacionais delegados ao poder contratual das centrais. Em relação à Previdência o governo conta com o ambiente de negociação coletiva para diminuir a resistência dos setores populares às mudanças que atingem o conjunto dos trabalhadores, como a idade mínima para aposentadoria e a redução dos ?privilégios? das mulheres na contagem do tempo de serviço.
 
8. Nestes dois governos do PT e de Lula, as massas duramente compreendem que a gestão da política social pela ?esquerda? será sempre subordinada ao ajuste fiscal e que a gestão da política industrial, agrária e econômica se dará nos marcos do neoliberalismo com a tutela das elites. Este discurso do governo possível, do encontro de contas e da administração gerencial - é responsável pela desmobilização de uma ampla vanguarda social. A independência dos movimentos foi cotidianamente ameaçada e as lideranças envolvidas pela defesa de políticas de acordo e consenso no âmbito do Estado. Mesmo o MST, que é radical, de massas e o movimento mais organizado do Brasil mantém uma fidelidade ao governo a ao PT em nome dos condicionamentos estruturais da economia brasileira atribuindo os desvios da política geral do governo a correlação de forças no congresso nacional e no judiciário. 
 
9. O crescimento vertiginoso das administrações gerenciadas pelo PT contribuiu para o deslocamento da ação militante para ações de sustentação de políticas públicas abrangentes, arbitrando conflitos sociais e interesses antagônicos na busca de soluções acordadas. Especialmente a instituição das conferências setoriais canaliza as demandas sociais dos segmentos populares e as ordena e disciplina para a barganha institucionalizada. Nestes espaços são selecionadas as demandas que não comprometem os compromissos políticos deste governo com as elites e o atendimento destas demandas é hierarquizado conforme o ajuste orçamentário. As políticas mais universais que enfrentariam a desigualdade social são subordinadas ao ajuste fiscal com a anuência das lideranças destes movimentos. A concorrência pelo atendimento destas demandas obstrui a reorganização do movimento e se constitui numa barreira ideológica importante. As políticas ambientais, as políticas para as mulheres e as políticas para a economia solidária são contaminadas pelas concessões pontuais e hierarquizadas do governo Lula. E representam uma parte ínfima dos orçamentos governamentais, que de um lado atendem seletivamente grupos de pressão e de outro lado represam demandas sociais através da concessão de direitos sem a correspondência na oferta dos serviços públicos.
 
10. O maior exemplo da eficácia da política do governo Lula em desorganizar os movimentos é o assumir, distorcendo os objetivos, as pautas dos movimentos, o que fica muito claro na opção agro-exportadora associada, tanto ao manejo das atividades produtivas (disciplinando a exploração de madeira, da soja e do pastoreio no Pantanal e na Amazônia), quanto à corrida energética através do incentivo as usinas de álcool para a produção de biodiesel e a construção de usinas hidroelétricas de grande impacto social e ambiental. O governo Lula se constituiu em parceiro prioritário dos EUA para difundir o plantio e o uso do etanol no continente americano e africano. Ao mesmo tempo o governo acena para o movimento ambientalista com a diminuição (tímida) das queimadas na Amazônia e com a demarcação de áreas de proteção ambiental. A maioria destas áreas sem regulamentação e sem estrutura pública de fiscalização. Como os militares na década de 70, o governo apóia a transformação do campo brasileiro em matéria prima para o desenvolvimento, através da monocultura, onde o etanol substituirá o que a soja representou naquele período. Como conseqüência, teremos o aumento do desmatamento e uma maior poluição das fontes de água, além da degradação das condições de trabalho e o aumento da concentração da propriedade no campo. Acompanham esta política a liberação do cultivo dos transgênicos e a obra de transposição do rio São Francisco.
 
11. Embora vivamos uma conjuntura defensiva para a classe trabalhadora, os setores populares começam a retomar as mobilizações contra algumas políticas do governo Lula como as manifestações contra Bush, as mobilizações do 8 de março e o Encontro de 25 de Março. Setores que apóiam o governo também participaram destas mobilizações, mas manipularam pautas e pressionaram os movimentos mais radicalizados para o abrandamento das críticas ao governo. Especialmente o Encontro Nacional Contra as Reformas Neoliberais do dia 25 de março, organizado pela Intersindical, Conlutas e FST, com a presença de representantes das pastorais, do MST e até mesmo da corrente sindical do PCdoB, apontou uma perspectiva mais promissora para o próximo período. A conferência da Intersindical nos próximos dias deve apontar para uma política que fortaleça a organização da corrente sindical, buscando um formato mais nacional - além do eixo Rio/SP e funcionalismo - e uma estrutura burocrática mínima. Ao mesmo tempo, deve explicitar sua política sobre a proposição da Conlutas e também da CSC pela unificação em uma nova central. Mas o processo não concluído de construção da Intersindical impõe uma ampla discussão no interior da corrente sindical e uma maior  unidade de ação, com o aprofundamento das definições sobre a concepção sindical, avançando em definições claras sobre a democracia, a autonomia em relação aos partidos políticos e a independência. Estas questões vêm sendo defendidas em parte pelo PCB e por setores do Enlace, que ainda fará uma reunião nacional antes da Conferência para acordar sua posição nacional.
 
 
Sobre a conjuntura Estadual
 
12. A retomada da capacidade de investimento dos Estados passa por uma política fundamentada na justiça tributária, no combate a sonegação, na revisão da dívida com a União, visando garantir que os Estados tenham capacidade de financiar as políticas públicas necessárias para o desenvolvimento social. Mas sem o enfrentamento, pelo governo federal, da questão da dívida externa e com o abandono da organização de um movimento nacional pela auditoria e suspensão da dívida, resta aos Estados a mobilização. A direita e o governo Yeda não são interlocutores de nenhuma alternativa, pois miram em salários e custeio para sanear o Estado. A caótica gestão do Estado é que produziu a crise que vivemos, e a conta agora é cobrada da população com a diminuição dos serviços públicos fundamentais de saúde e educação, e com o insistente ataque aos direitos dos trabalhadores. O PT de Olívio também não vai fazer este debate aflorar, pois não vai desafiar a política de ajuste fiscal buscada pelo governo Lula. O PSOL deve defender a auditoria da dívida e retomar o debate pela suspensão e/ou reciclagem da dívida interna com diminuição do seu custo e reestruturação de prazos. 
 
13. O governo Yeda é um genuíno governo neoliberal representante do empresariado e do latifúndio (agronegócio). Esse projeto prevê o enxugamento de 30% dos gastos da estrutura do Estado e mantêm as isenções fiscais para as grandes empresas. Honra o pagamento da dívida com a União (18% da receita do estado!). Apóia a expansão do deserto verde ? plantação de eucaliptos pela empresas Aracruz Celulose, Votorantin e Stora Enzo. Extingue o gabinete da Reforma Agrária, pressiona a débil política ambiental, e renova a agenda das privatizações, através da venda de ativos do Banrisul. Imprime uma política de segurança que agride os direitos humanos. Abandona a saúde e a educação públicas. Manipula direitos reprodutivos das mulheres e implementa políticas que segregam segmentos sociais vulneráveis. Apóia, juntamente com o PT e governo Lula, a desnacionalização do setor petroquímico. Para os servidores públicos, o governo pretende arrochar ainda mais os salários através do seu congelamento por dois anos, medida aprovada pela Assembléia Legislativa desde o PSDB ao PT, no Pacto pelo Rio Grande em meados de 2006.
 
14. O PSOL permanecerá denunciando o projeto neoliberal de Yeda e junto aos movimentos sociais organizará a resistência ao plano de ajuste. Devemos defender o crescimento econômico, mas baseado no desenvolvimento das potencialidades locais. Apoiando a pequena propriedade rural, a agroindústria familiar, a reforma agrária ampla, o pequeno comércio, a economia popular e solidária ? com sua capacidade de gerar e distribuir renda, democratizar as relações de produção e aumentar o controle social sobre a economia-, enfim todas as atividades que geram renda e emprego para a maioria de nosso povo. Especialmente a reforma agrária permite produzir uma dinâmica maior da economia nas regiões, contribuindo no enfrentamento da crise social e no fomento da agricultura familiar. É fundamental  defender uma profunda reforma agrária para o enfrentamento da concentração da propriedade rural no Rio Grande do Sul, que esta associada às localidades mais empobrecidas do Estado.
 
 
A tática eleitoral
 
15. A cena gaúcha seguirá polarizada pelo governo Yeda (PSDB) e pelo PT, que buscará capitanear uma oposição gerencial ao governo do PSDB. O PSOL encontrará o seu espaço através de uma radical oposição às políticas deste governo, mas ao mesmo tempo deve confrontar a oposição petista que é contraditória em seu discurso e subordinada na defesa das políticas do governo federal. Com o governo de coalizão no nível federal, projetos que atendem a demandas populares vão sofrer interrupção ou desvirtuamento. Os setores empresariais e a elite financeira vão pressionar para um maior aprofundamento das reformas, especialmente a reforma previdenciária e trabalhista, o que já traz impacto na agenda de lutas do movimento sindical. A ?oposição? do PT/ RS irá compartilhar a coalizão na agenda local (vide a reforma tributária com Rigotto) e o arranjo político com os partidos que compõe este governo.
 
16. A campanha municipal de 2008 será um momento privilegiado onde poderemos associar a propaganda de nossas propostas a denuncia das limitações da democracia burguesa, defendendo a participação popular e o controle social. Defendemos que o PSOL tenha uma linha política nacional para as eleições de 2008, definindo as iniciativas e a política de alianças, a partir do acúmulo da Frente de Esquerda constituída para enfrentar as eleições de 2006. 
 
17. O principal problema colocado é o risco da absorção do Partido pela institucionalidade. O PSOL é um partido jovem, de frágil estrutura orgânica e construído em um período de lutas defensivas dos movimentos sociais e de grande prosmiscuidade na política, atingindo organizações políticas originalmente identificadas com as lutas populares. A burocratização, o aparelhamento, o poder econômico, a corrupção, o controle e a manipulação das informações, foram práticas naturalizadas em organizações sociais e políticas. O PSOL que tão jovem já é desafiado a manter mandatos e enfrentar dinâmicas eleitorais de dois em dois anos não pode ficar subordinado aos calendários eleitorais e refém dos mandatos parlamentares. As candidaturas do PSOL devem expressar a relação do Partido com os movimentos de massa. Recusamos o modelo de filiação de pré-candidaturas e seus cabos eleitorais, típicas do populismo e da direita. O atrelamento orgânico dos movimentos sociais aos mandatos executivos e legislativos produziu o mais eficiente controle social desde a queda da Ditadura, e foi subproduto da centralidade de mandatos e executivos na vida partidária e da concentração do poder em estruturas partidárias. A experiência recente do PT demonstra isto.
 
18. O centro da tática eleitoral do PSOL precisa ser a organização das massas trabalhadoras para a luta pelo socialismo. A constituição da Frente de Esquerda em 2006 era coerente com esta concepção. A dificuldade de execução desta política está relacionada com a recente derrota sofrida com a capitulação política do PT e seu governo. Não podemos ceder as tentações de acordos e alianças com Partidos comprometidos com governos neoliberais e burgueses, mesmo que se coloquem como oposição ao governo Federal. 
 
19. A política de alianças do PSOL não pode criar a ilusão de que os interesses populares encontrarão defensores entre os Partidos controlados por liberais, pequenos burgueses e grandes capitalistas. Além do PSDB, PP e Demo (PFL), partidos tipicamente de direita, também o PPS (aqui no Estado dominado pela direita do PMDB), o PMDB, o PDT, o PTB e o PV (que não agrega nenhuma militância ambientalista e que não apóia as pautas do movimento) representam os setores que defendem uma política de conciliação de interesses das massas assalariadas e médias com os interesses do grande capital. O estudo da composição social de cada Partido, da prática política e da trajetória dos seus militantes são elementos fundamentais para a  definição da tática a seguir. O PT, o PSB e o PCdoB, são partidos que aderiram ao receituário neoliberal, abdicando da luta socialista e que defendem a concertação social, onde o governo de coalizão é o mais legítimo representante. Mesmo estes partidos defendendo um capitalismo nacional, onde os trabalhadores são chamados a colaborar, ainda atraem militantes com referências socialistas. Com esses militantes socialistas devemos buscar o diálogo e até mesmo a ação comum. São companheiros que devemos chamar para uma política ofensiva de construção de uma alternativa socialista nas próximas eleições e buscar retirá-los da influência das direções reformistas.
 
20. Defendemos que o PSOL marque imediatamente, enquanto não se consolidam as candidaturas nos municípios, a conferência eleitoral e defina  a tática nacional do Partido. Ao mesmo tempo, defendemos que formule e apresente um pré-programa à sociedade e que este seja discutido com os movimentos sociais da cidade e do campo. Para concretizar esta política a identidade do PSOL e da esquerda socialista precisa ficar clara neste próximo embate eleitoral, através de candidaturas próprias e/ou da constituição de Frentes de Esquerda comprometidas com o programa que defendemos.
 
 
A construção do Enlace
 
21. Mesmo com todas as nossas debilidades (construção recente da corrente, quebra financeira, reduzida presença no movimento social, isolamento em função do adesismo das direções dos principais movimentos) participamos de algumas das principais iniciativas dos movimentos aqui no Estado. Participamos das mobilizações promovidas pelo Fórum Nacional e Intersindical, e no RS a Neiva vem puxando a organização da Intersindical no Estado juntamente com outras forças políticas do PSOL. Concorremos à eleição dos docentes da UFRGS através da boa votação da chapa encabeçada pela nossa companheira Bete, e atuamos na luta contra o deserto verde através da ação da Beliza, Martin e Pablo no conselho universitário da UFRGS, juntamente com o DCE. Também participamos da resistência, ainda modesta, mas importante, contra a desnacionalização do setor petroquímico do estado, através da inserção no SindiPólo com o Marco Aurélio; e da resistência ao sucateamento da Varig através da militância do companheiro Paulo Karas. Mais recentemente tivemos a luta pela implantação do sistema de cotas, onde igualmente tivemos participação destacada. Estimulamos a organização de rádios comunitárias em NH, Canoas e apoiamos as ações da Abraço.  Acompanhamos os processos estudantis na Unisinos e na Feevale e apoiamos as iniciativas do MPL. Tivemos uma destacada presença do mandato de nosso vereador Ralfe em questões de grande interesse para os movimentos sociais da região, especialmente junto à juventude (pista de skate, metrô, passagens urbanas, despotismo...) e ao mesmo tempo demarcando bem na política municipal de NH. Temos ainda um diálogo importante com o movimento ambientalista, especialmente com a Maricá que atua sobre o banhado grande, e a Terraguar retomada no Vale dos Sinos, que são iniciativas importantes. Contamos com uma boa relação com alguns sindicalistas do Vale dos Sinos, e podemos estreitar esta relação se tivermos dedicação para tanto. Acompanhamos e dirigimos, através da inserção da Neiva, mobilizações importantes do Cpers-Sindicato, e o Movimento Contestação, de nossa juventude secundarista de POA e Viamão, tem ampliado sua atuação. Igualmente estamos através da Berna mobilizados na defesa dos trabalhadores das universidades federais em greve já há três meses. Ainda estamos acompanhando as principais mobilizações dos movimentos sociais na região, mesmo com nosso modesto tamanho, como a campanha pela anulação do leilão da Vale e as jornadas pela educação.
Tudo isso após uma dura campanha eleitoral, e em seguida ao nosso desembarque no partido. Onde conseguimos uma votação importante do companheiro Ralfe e da companheira Berna. Além de nossa contribuição para a reeleição da deputada Luciana Genro. Não são poucas coisas para nosso tamanho e estrutura.
 
22. Nestes últimos três meses estivemos muito envolvidos com as atividades internas do PSOL e nos dedicamos a qualificar o debate sobre a pauta do congresso nacional nos engajando na organização de reuniões partidárias. Tínhamos claro que o PSOL precisava superar o seu atual estágio de construção, ainda muito incipiente e a sua excessiva concentração nas atividades e iniciativas de seus parlamentares. É claro que tivemos muitos problemas de organização, não foi fácil voltar a aglutinar uma militância desiludida e que não se entusiasmou com a campanha nacional do PSOL. Também saímos todos muito quebrados da campanha eleitoral, e retomar a vida orgânica da corrente foi um desafio permanente em todo este período. Mas conseguimos, com muitas dificuldades, ter uma participação importante no Congresso Nacional do Partido. Participamos dos principais debates colocados, intervimos em plenárias da corrente e nos grupos de trabalho do congresso. Defendemos posições que auxiliaram na construção da posição Nacional da corrente. O Enlace teve uma participação que elevou o nível do congresso, estabeleceu diálogo com o conjunto das forças que se chocaram na disputa congressual, politizou o debate e influenciou a tomada de decisão sobre as principais questões em pauta. Considerando as nossas debilidades, foi um grande saldo político. É verdade que tivemos diferenças sobre a nossa linha no congresso, especialmente sobre a tática eleitoral e sobre a relação com a chapa da maioria. E também é claro que a boa atuação do Enlace no congresso não apaga o golpe patrocinado pela nova maioria ao PSOL, estamos falando de um congresso sem regimento, sem espaço para o debate qualificado da militância, sem o aprofundamento das divergências nos grupos e plenárias. Ficamos todos, justificadamente, muito receosos sobre o futuro do PSOL. 
 
23. Porém, os resultados obtidos na votação de resoluções importantes, como a resolução sobre o aborto, nas definições quanto à proporcionalidade, no comprometimento inclusive dos que foram estigmatizados no congresso do PSOL, justificaram a expectativa de todos, de que os congressos estaduais avançassem na estruturação do Partido e na elevação política do debate partidário. Mesmo com diferenças sobre a tática adotada pelo Enlace em cada estado, todos se empenharam pela construção de um ambiente partidário de construção, sempre que a realidade local assim o permitiu. Mas o episódio do desrespeito à decisão congressual sobre o critério da proporcionalidade é mais um fato que demonstra a fragilidade da atual direção nacional do PSOL. Com certeza a provável solução do conflito é mais uma demonstração de que o Enlace vem intervindo de forma qualificada na direção nacional do PSOL, porém isto não credencia as correntes majoritárias, não reconstitui nossa confiança, e devemos permanecer atentos. Especialmente em SP a corrente privilegiou uma composição com a APS, como uma tentativa de superar o quadro de luta interna e como busca de condições que possam impulsionar o partido para fora. Permanece o receio de encontrarmos dificuldades na condução da política para o partido e na tática eleitoral em Sampa, pelo posicionamento da APS no congresso nacional e pela pauta excessivamente eleitoral desta corrente. 
 
24. Mas aqui no RS as condições de disputa sempre foram mais desfavoráveis. De um lado pela presença de um PT mais identificado com a esquerda e com o socialismo, inserido de forma mais orgânica nos movimentos sociais e com forte presença de lideranças nacionais e regionais no governo federal, onde ocuparam e ocupam postos em espaços de importância para os movimentos sociais, como o desenvolvimento agrário, educação, cidades, EPS e outros. Igualmente, a maioria da direção do PSOL no RS é muito identificada com posições que o Mês mantinha no interior do PT e na relação com os movimentos sociais. Esta prática política vem provocando sucessivas crises no partido, só não mais evidente pela quase inexistente vida interna. O diretório é um triste exemplo, não reuniu nos últimos dez meses. A executiva é uma instância eventual, que depende da vontade do presidente. A informalidade das decisões facilita o descontrole partidário no estado, através das freqüentes filiações sem critérios, da acolhida de grupos políticos com tradições distintas e com fortes desvios eleitorais. Ao mesmo tempo, existe uma utilização constante da estrutura partidária para a construção da corrente majoritária. No movimento a direção majoritária do PSOL é refratária a ações unitárias, sendo comum o pouco empenho em participar das iniciativas das organizações sociais no estado, quando não obtém maioria, e é comum a retirada do PSOL de atos quando o partido não consegue ou não quer compartilhar a direção da atividade.
 
25. Foi este cenário estadual que provocou nossa recusa de aceitar uma composição de direção no RS. O movimento do Mês, corrente majoritária, foi pela construção de uma direção com base na oferta de espaços e estrutura na executiva. Não existe e não existiu nenhum movimento de construção de uma política estadual. Esta proposição que foi anterior ao congresso nacional, sempre foi baseada na exclusão de correntes minoritários consideradas pela maioria como entraves para a construção partidária. Especialmente colaborou para esta política o racha da base sindical do Mês, exigindo uma política de aproximação de outros setores para legitimar uma nova direção. Este insistente movimento, combinado com nossa insuficiente presença na executiva do PSOL (apesar do esforço da Cheron e do Mário), permitiu que fosse consolidado um formato de congresso estadual absolutamente formal, onde todas as discussões foram reduzidas a acertos de interesses entre as correntes. Colaborou muito a posição do CSOL e da AS de apenas desgastar a corrente majoritária e demarcar algumas posições, o que impossibilitou qualquer articulação maior nossa com estes setores, especialmente com o CSOL, que é um parceiro importante inclusive na Intersindical. Mas é igualmente verdade que não conseguimos fazer um movimento mais forte internamente ao partido para alterar este quadro. 
 
26.  Mas além destas dificuldades tivemos internamente na corrente muitos problemas na definição de nossa tática para o período congressual. Houve uma pressão constante da corrente majoritária sobre nossas representações na executiva para o abrandamento de nossas cobranças sobre o funcionamento do partido. O peso da crise provocada pelo episódio de São Leopoldo (com filiações amplíssimas) e que acabou, por nossa iniciativa, forçando uma definição da executiva pela não tirada de delegados na cidade, e a pressão constante do Mês sobre as reuniões em NH, através de olheiros e da ?perda? de atas para o congresso nacional, deram o tom de que o ?acordo? proposto pela corrente majoritária esperava correspondência na submissão de nossos militantes a esta política de construção do partido. Especialmente nas vésperas do congresso estadual, logo após o congresso nacional, foi acordado pela executiva um formato de congresso de um dia, sem regimento pré-definido e com encaminhamentos que privilegiavam a fórmula ?bater crachá?. Este congresso estadual não foi convocado ou organizado pelo diretório, que não reúne há dez meses.
 
27.  O resultado foi o que era esperado, um congresso sem debate e de bater crachá. Mas é preciso destacar as nossas boas intervenções no plenário, especialmente sobre a conjuntura estadual e que foi aprovada, e sobre a tática eleitoral - que foi muito boa ?  que dividiu o plenário, apesar de não termos efetuado a contagem. O que poderia ter revelado um pouco mais o posicionamento do setor majoritário, e politizado mais o debate. Igualmente foi falha a nossa articulação enquanto Enlace para o encaminhamento proposto pelo Ponge sobre a discussão da duração dos mandatos de parlamentares e dirigentes. Neste ponto votamos divididos. Ao final a proposta da maioria é de uma executiva de 17 nomes o que busca dar maior representatividade para a direção do PSOL. Já que a chapa é exclusiva Mês e Viamão. E a participação da APS é muito subordinada - 3 ou 4 militantes, já que sua militância não se filiou ao PSOL, apesar de nos acompanharem na saída do PT. Neste formato de executiva, temos duas indicações do Enlace. Resta-nos decidir qual o papel que teremos nesta executiva. Mas sabemos que o poder imperial da maioria permanecerá, não apenas pelo peso destas correntes no diretório, o que já existia. Mas também pela concentração da estrutura e das informações e pelas iniciativas políticas do mandato de Luciana Genro.  
 
28. No geral fizemos movimentos que explicitam diferenças de método para a construção partidária. Fomos rigorosos na defesa de posições, e realizamos defesas de resoluções com todos os agrupamentos políticos do plenário. Mesmo com as nossas dificuldades tivemos uma intervenção que preserva o Enlace de acordos privilegiados com o setor majoritário e ao mesmo tempo, qualifica a nossa relação com as correntes de oposição, sem nosso comprometimento em travar uma permanente luta interna. Manter um posicionamento coerente com o que defendemos no congresso é uma tarefa importante, e por isso é fundamental não apenas conservar a participação do Enlace na executiva, mas principalmente qualificar a nossa participação. Não que os companheiros destacados para esta tarefa não tenham se esforçado para tanto. Mas precisamos melhorar bastante nossa participação, principalmente nos articulando melhor na tomada de decisões e na articulação de iniciativas. Mesmo com a grande tensão em nossa base pela decepção com o processo congressual, é importante não precipitar qualquer movimento que signifique um recuo em relação às definições que tiramos apesar das dificuldades serem grandes. Devemos ?cavar? espaços de diálogo dentro do partido com base em nossas concepções de construção, com democracia e empenho no acompanhamento da luta social, e principalmente através do nosso engajamento na constituição de setoriais que joguem o partido para fora, escapando da luta interna e da pauta balizada pelo impacto na mídia e de inspiração parlamentar, que vem restringindo a ação do partido.
 
29.  Investir e incentivar a formação de setoriais do Partido significa construir uma estrutura partidária que auxilie a organização dos militantes, respeitando ritmos e diferenças, especialmente naqueles setores onde a militância do PSOL tem acúmulo
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