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Balanço das Eleições municipais/2008
Mário Azeredo- Executiva Nacional PSOL
Contribuição ao Debate
Balanço das Eleições municipais/2008
Introdução:
As eleições municipais de 2008 se deram num quadro de enorme prestígio de Lula, que chegou a atingir cerca de 80% de aprovação em algumas pesquisas de opinião. Fato este que beneficiou os candidatos governistas e deixou a oposição de direita com menos argumentos para atacar o governo ou mesmo diferenciarem-se politicamente. Por outro lado, esta situação nos trouxe dificuldades para emplacar um discurso mudancista, tendo em vista que a consciência média do eleitorado primou pelo continuísmo na maioria das capitais ou pelo apoio aos candidatos governistas, em uma disputa esvaziada de conteúdo político e ideológico e centrada no debate sobre quem pode administra melhor a cidade. Portanto, isso minimizou a polarização entre o PT e a direita, abrindo a possibilidade desses setores se coligaram em muitos municípios. Dos 26 prefeitos das capitais, vinte disputaram um segundo mandato. O prestígio de Lula e o resquício de estabilidade econômica, logrou garantir a reeleição de 12 deles no primeiro turno e outros 8 foram para o segundo turno. O PT está coligado em 2.292 municípios com os partidos da oposição de direita. Com o PSDB em mais de 1000 municípios e com o DEM em cerca de 900 municípios.
Estas dificuldades políticas, associadas ao fato de termos um partido ainda em fase de construção - sem um grande enraizamento social -, com uma direção nacional débil e com um funcionamento ainda precário, limitou a intervenção eleitoral do PSOL, que elegeu apenas 25 vereadores em todo o país, após termos ficado em terceiro lugar na disputa presidencial de 2006.
Mas apesar destas dificuldades, podemos afirmar que o PSOL, nestas eleições, mostrou-se enquanto a única alternativa de esquerda ao governo Lula e ao PT, projetando centenas de novas figuras públicas que poderão ajudar a aumentar a influência política do partido no próximo período, que será de maiores dificuldades para o lulo-petismo, em função da crise econômica que se avizinha e pelo fato de que Lula não ser mais o candidato do governo para 2010.
Neste sentido, nossa análise sobre o resultado das urnas deve ser dinâmica, para não perdermos de vista as mudanças que estão se anunciando na conjuntura e as novas oportunidades que serão abertas para a consolidação de uma alternativa de esquerda no próximo período. Sendo uma pré-condição, para ocuparmos um maior espaço a esquerda nesta nova conjuntura que está se abrindo, qualificarmos o partido no debate de alternativas frente ao aprofundamento da crise econômica e intensificarmos dois movimentos combinados: 1) avançarmos em nosso enraizamento social e na construção de frentes sociais de lutas com os movimentos sociais e setores progressistas e 2) estabelecermos uma dinâmica interna que favoreça o debate político e o funcionamento democrático do partido.
O PT, seus aliados e a oposição burguesa
O quadro das eleições nas Capitais demonstra que mesmo com todo este prestígio, Lula ainda não garantiu vitórias para o PT nos grandes centros, o que poderia mudar com o resultado no segundo turno. Em Belo Horizonte, mesmo junto com o PSDB e o apoio de Aécio Neves e Pimentel não conseguiram faturar no primeiro turno. No Rio está fora e S.Paulo vai para segundo turno atrás de Kassab e o mesmo acontece em Porto Alegre e Salvador. O PT ganhou no primeiro turno em 6 capitais (Fortaleza, Palmas, Porto Velho, Recife, Rio Branco e Vitória). Até o momento o PT é quem mais ampliou o número de prefeituras ganhas, chegando até agora a 548, portanto, 157 a mais do que 2004.
O PMDB levou duas capitais (Campo Grande e Goiânia) e vai disputar o 2º turno em cinco (Belém, BH, Florianópolis, RJ, Porto Alegre e Salvador). O PMDB é o partido que dirige mais prefeituras no país, são 1.194.
Os resultados ainda não são definitivos, mas os adversários de Lula ficaram assim: o DEM perdeu 291 prefeituras, com destaque para a derrota do ACM neto e do Carlismo na Bahia, reduzindo a sua influência para 497 prefeituras no país. Em São Paulo, é onde o DEM com Kassab pode amenizar sua derrota eleitoral em outras partes, graças à articulação do governo Serra. Já o PSDB ganhou em Curitiba e Teresina e vai para o segundo turno em Cuiabá e São Luiz e no RS onde governa, foi um fiasco total.
Esses resultados demonstram as contradições e as disputas no tabuleiro do poder que visam às eleições de 2010. O resultado do 2º turno e as conseqüências da crise financeira mundial na economia brasileira vão sedimentar o caminho da próxima disputa eleitoral. A correlação de forças entre os diversos partidos burgueses e pequeno-burgueses ainda não está definido. O que já está dado é que houve uma permanência política do domínio conservador/clientelista no comando do poder local no país, pois se é verdade que a influência do DEM e do PSDB diminuiu e a do PT e sua base aliada aumentou, este último passou a usar o troca-troca legalizado dos ?bolsas alguma coisa?, se igualando ao velho uso do clientelismo como modo de dominação eleitoral. Portanto a vitória destas eleições é produto de um PT, que só avançou por se apropriar dos métodos dos ex-inimigos, tornando-se um deles e abrindo mão de ser um projeto alternativo para o país, que privilegie os trabalhadores e o povo pobre.
Neste sentido, o fortalecimento eleitoral do PT não pode ser visto como o fortalecimento de um projeto de esquerda, mas sim de uma máquina eleitoral que soube fazer bom uso de seu poder no governo federal e do prestígio de Lula, reforçando um partido que hoje compõem, sem maiores diferenciações, a fauna de partidos conservadores, embora mantenha um verniz progressivo devido a sua história e as políticas sociais implementadas pelo governo Lula. Isso não significa que o lulo-petismo seja uma ?nova força de direita?, se considerarmos este termo em sua forma clássica, mas constitui-se em uma força política que reúne cada vez mais interesses regionais articulado com os poderes econômicos locais e sem nenhuma vinculação com um projeto de mudança para o país. Neste sentido, o PT aproxima-se cada vez mais do perfil que teve o PMDB nos anos 80 e 90, quando este partido enraizou-se nacionalmente durante o governo Sarney, elegeu a maioria dos governadores na onda do plano cruzado e transformou-se em uma federação de caciques estaduais vinculados a interesses conservadores e ao poder econômico.
Resultados do PSOL numa conjuntura adversa para a esquerda
Neste quadro, o PSOL se afirmou como a única oposição de esquerda séria e com uma possibilidade de futuro promissor. Apesar de não sermos uma alternativa imediata, o povo está vendo o partido como uma possibilidade, o voto na legenda demonstrou isso. O que nos diferencia do PSTU, por exemplo, que não consegue avançar e possui índices de rejeição inacreditáveis para quem nunca governou nada. Em todo o processo, os militantes do partido escutaram da população as expressões: ?só não voto em vocês porque não quero que fulano ou sicrano ganhe? ou ?voto na legenda do PSOL, mas pra prefeito vou votar em tal?. A população é muito concreta e utilizou o voto útil já no primeiro turno.
Podemos afirmar que considerando as dimensões, os desafios e o enorme consenso em torno a Lula que o PSOL enfrentou nessas eleições, é que tivemos uma experiência positiva, contudo isso não se deu sem erros ou equívocos.
O que teria sido destas eleições sem o Psol? Uma mesmice sem fim, desesperadora para alguns grupos sociais, que mesmo ainda vinculados com o atraso político, querem algo diferente. Ocupamos o espaço da diferenciação, se não tivemos votações expressivas, construímos bases interessantes para nosso futuro. Sempre é bom lembrar que foram as primeiras eleições municipais que participamos enquanto Psol.
Balanço da tática de alianças
Parte importante do balanço é o resultado da nova política de alianças do Psol, que não reproduziu a frente com o PSTU/PCB, como aliança exclusiva. Vamos levantar os resultados e participação do Psol e os dois partidos. Foi relevante o papel do PSOL nesta eleição no quadro municipal, o partido lançou quase 300 candidatos a prefeito e 2.685 candidatos a vereador por esse país a fora e um esforço de estar presente em praticamente todas as disputas eleitorais das capitais. O PSTU (34 candidatos a Prefeitos) e o PCB (43 candidatos a prefeitos) juntos lançaram 935 candidatos a vereador, um terço do esforço do PSOL.
O PSTU não elegeu nenhum vereador em todo o país. Apesar do bom desempenho de Ciro no Rio. Vera Guasso, candidata a prefeita de POA tinha o maior índice de rejeição sem nunca ter ocupado cargo algum e seu candidato a vereador diminuiu de 6mil para menos de 5 mil votos. Resultado de sua política e de sua opção em intervir centralmente no sindical, propagandeando a Conlutas.
Ficou claro que estes companheiros, com raras exceções, escolheram o Psol como seu principal adversário. Vide balanço eleitoral de sua direção, onde atacam o Chico e também o Ivan em SP. Além de na maioria dos locais em que saímos juntos, tenham nos afastado do diálogo com uma classe média politizada e radicalizada. É importante ouvir, por exemplo, os companheiros do RJ se esta aliança nos ajudou ou nos isolou em relação a este segmento social.
Macapá e Porto Alegre foram as capitais onde o PSOL se apresentou com coligações para além das alianças das últimas eleições. A primeira foi para a disputa de segundo turno e expressa o peso do PSB naquela cidade, onde o Psol se apresenta como vice. Em Porto Alegre, onde houve aliança com o PV, o Enlace teve duas posições. Nós acreditamos que se confirmou nosso prognóstico. A aliança com o PV não comprometeu em nada os resultados da campanha. Ao contrário, contribuíram com dois pontos positivos: tempo de TV e militância. Portanto, o resultado foi fruto dos espaços conquistados pelo PSOL, garantindo assim como em Fortaleza, um desempenho superior à média nacional. E neste caso a coligação foi um dos elementos que contribuíram para este resultado. Mas, a desilusão com o petismo e a afirmação de um novo projeto, foram o decisivo. E os problemas que tivemos na campanha em Porto Alegre, se deram por responsabilidade exclusiva da direção majoritária do Psol, que não integrou o conjunto do partido, realizando uma campanha verticalizada e centrada em sua corrente.
Ainda que secundário, salientamos dois processos que são necessários ser levantados para um balanço mais específico dos setores de vanguarda. O primeiro é a linha política do PCB que se demonstrou oportunista em diversos estados. Não pela flexibilidade tática nas alianças, que necessitaria ser avaliada caso a caso, que não é nossa tarefa, mas pelo ataque irresponsável onde não estavam coligados conosco. Por exemplo, o PCB fez coligação com o PDT em Belo Horizonte. Em João Pessoa, fez parte de uma frente onde entrou o PSL/PTC/PTB/PMDB/PRP/PV/PT/PSC/PP/PRTB/PPS/PRB e o PC do B. Em Natal, participaram de uma frente com PSB/PT/PDT/PTN/PHS/PMDB/PRB e o PC do B. Em São Luis com o PDT/PMN/PSL/PRP/PSDC/PR/PHS/PTN/PPS. Portanto, esses companheiros não podem se postar como os principistas, até porque tática eleitoral não é princípio. Nada de novo, a tática adotada pelo PCB nessas eleições continua sendo a do zigue-zague desse partido, entre o oportunismo e o sectarismo. E foi graças a essas coligações que o PCB elegeu a maioria de seus vereadores.
No último pronunciamento a direção do PCB aprovou apoio aos candidatos Maria do Rosário do PT em Porto Alegre, Walter Pinheiro do PT em Salvador e Flávio Dino do PC do B em São Luis. O que está por trás da coligação do PCB em Natal, e no que se diferencia tanto da coligação em João Pessoa ao ponto da Direção daquele partido aceitar uma e propor expulsão dos responsáveis da outra? Haja contorcionismo para entender as ?boas? intenções do Comitê Central do PCB. Mesmo o PSTU não escapou das contradições eleitorais que tanto cobram. O PSTU em Porto Velho participou de uma frente que cabia desde o PT/PV até o PTB/DEM/PSDC e PPS.
O importante aqui é saber que temos que encarar o debate sobre coligações, e com mais tranqüilidade e menos passionalidade. Pois um país do tamanho do nosso, com tantas diferenças culturais e políticas, e com um sistema político em que os partidos nas mais diversas localidades nem sempre expressam posições ideológicas nacionais, será difícil não encontrarmos problemas e dúvidas de como proceder nos variados casos que encontraremos. Temos que pensar em critérios, pois também não podemos cair na política do ?tudo é possível já que estamos em uma bagunça mesmo?.
PSOL: vitórias em meio a acertos e erros
Baixando a terra, podemos dizer que em alguns estados tivemos um desempenho melhor do que em outros. Em primeiro lugar queremos destacar que a novidade ficou por conta de Fortaleza. Ali tivemos um resultado extraordinário, Roseno obteve 67.080 votos/5,67%, disputando contra duas potências Patrícia Sabóia do PTB/PSDB/PDT e Luizianne do PT/PMDB, onde o PT ganhou no primeiro turno. A eleição do companheiro João Alfredo, como o vereador mais votado daquela capital, muda a situação do partido na região. João Alfredo é um quadro com relação importante com o MST e referência na luta eco socialista. Isso sem nenhuma estrutura, já que não tínhamos nenhum parlamentar no Ceará.
Em Porto Alegre, apoiado no prestígio de Luciana Genro, foi onde o partido conseguiu eleger dois vereadores, quando não tínhamos nenhum. Pedro Ruas foi o segundo mais votado para a Câmara e Luciana Genro foi a candidata a Prefeita do Psol que alcançou os melhores resultados eleitorais, atingindo 72.863 votos, com 9,22% e onde a legenda reafirma os espaços do partido. O Psol conseguiu ocupar o espaço a esquerda do PT e também do PC do B que fez uma coligação com setores de direita da capital e que não elegeu vereadores. De favorito passou a ser o maior derrotado. Predominou o voto útil no primeiro turno, o que levou a dispersão dos votos da coligação da Manuela entre Fogaça e Rosário.
Tudo isso apesar do atraso em mudar a linha de campanha que estava levando a desmoralização da militância, o que foi revertido nas últimas semanas. Com esse resultado se estabelece uma nova configuração no quadro político do Estado e o partido se firma com dois vereadores na capital.
Sem dúvida alguma, o lançamento da candidatura de Heloísa Helena à vereadora de Maceió foi uma política de alto risco. Enfrentando as famílias do ex-Senador Renan Calheiros e dos Collor, atingiu 7,40% dos votos válidos -29.516 votos- e elegeu mais um companheiro.
Depois temos uma segunda leva onde o partido reelegeu os companheiros Eliomar-RJ, o Elias em Goiânia, Renatinho-Niterói e Romer de Viamão e companheiros do interior de São Paulo. Estas disputas foram muito difíceis, onde o conjunto do partido empenhou todos os esforços e sem dúvida cumpriu o seu objetivo.
Uma terceira situação foi o caso de candidaturas majoritárias nas capitais em que o partido conseguiu resultados diferenciados. Em São Paulo, é importante considerarmos que os mandatos de vereador que o PSOL tinha neste estado haviam sido eleitos enquanto estavam no PT, não sendo portanto uma ?perda direta do PSOL?, mas isso não anula o fato de que neste estado, temos um deputado federal e dois estaduais. Não ter eleito nenhum vereador nesta, que é a principal capital do país, nos deixou debilitado. Embora o balanço eleitoral de São Paulo seja um dos mais complexos, tendo em vista as dimensões deste estado e a polarização entre as principais forças políticas do país, em uma disputa que antecipa, pelo envolvimento de Lula e Serra, o calor da disputa presidencial de 2010, não podemos perder de vista que o partido precisa ter uma política para recuperar espaço no próximo período.
Em SP e RJ ficamos aquém do que é realmente o potencial do partido e de suas figuras (Ivan 42.616 votos/0,67% e Chico no RJ 59.362 votos/1,81% - devido à polarização que levou Gabeira ao segundo turno, entre outros motivos, o Chico acabou obtendo menos votos para prefeito do que teve para deputado federal na cidade do Rio de Janeiro). Mas são nestes estados onde a disputa é muito desigual. Onde dinheiro, aparelho e estrutura são decisivos, o voto útil girou para a polarização de candidaturas que não as do partido. No caso do Rio, mesmo com todas as dificuldades ainda conseguimos reeleger o companheiro Eliomar. E onde Chico enfrentou uma candidatura como Jandira Fegali, que disputava o espaço de esquerda. Esse resultado é parte do esforço nacional do partido de permanecer na cena política.
Em outras três capitais tivemos um desempenho importante: Recife-25.568 votos/3,05%, Goiânia-31.066 votos/4,88%, Salvador-51.196 votos/3,94. Cada estado deverá detalhar melhor o balanço de sua região. Destas, podemos dar um maior destaque para Salvador, onde a candidatura do Hilton conseguiu cavar um espaço à esquerda e constituir-se em uma referência na cidade em meio a uma tremenda polarização eleitoral entre o PMDB e o PT (que agora disputam o segundo turno) e diante de um fenômeno social e eleitoral que tem sido a derrota do ?carlismo? (o grupo historicamente vinculado a ACM). ACM Neto não foi para o segundo turno em Salvador e os partidos ligados ao governo tiveram um crescimento em todo o estado. Para termos uma idéia da situação política neste estado, o PCdoB, que elegeu 39 prefeituras em todo o país no primeiro turno e 608 vereadores, saltou de 1 para 18 prefeituras e elegeu 133 vereadores somente na Bahia. O PT, que tinha eleito 19 prefeitos em 2004, passou para 67 nestas eleições. Números que dão a dimensão da decadência do ?carlismo? e da força de Lula no nordeste.
Orientação da IIª Conferência do Enlace foi um acerto
?Nossa participação na disputa eleitoral deve estar associada ao esforço de estruturação social do partido e ao fortalecimento de seus vínculos com os movimentos sociais, alavancando o processo de recomposição da esquerda brasileira. Para isso é fundamental a consolidação das candidaturas do partido e do Enlace em todo o país.? ? 2ª Conferência Nacional do Enlace-DEZ/2007.
Somos categóricos em dizer que a resolução da 2ª Conferência Nacional do Enlace na qual aprovamos que a corrente priorizaria a participação no processo eleitoral lançando o máximo de candidaturas pelo Brasil a fora foi um grande acerto.
A maior vitória do Enlace e que abre a possibilidade de uma nova síntese no interior do Psol e uma nova situação para a corrente, foi Fortaleza. A excelente votação de Renato e a eleição de João Alfredo como o vereador mais votado com 14.917 votos, nos coloca de volta no cenário nacional do partido. Além disso, tivemos a importante reeleição de Renatinho em Niterói, candidatura apoiada pelo Enlace, que foi o segundo mais votado com 4.452 votos.
Em São Paulo, avançamos nos consolidando como direção do Partido. Ao mesmo tempo, as eleições também serviram para lançar figuras da corrente em diversas cidades. Como o lançamento da Mariana em São Paulo. Uma candidatura jovem, com um programa que apresentou propostas sobre ecologia urbana, conhecimento, cultura e softwares livres, que obteve muito destaque na mídia, aproximando uma juventude e abrindo espaço com setores mais amplos incluindo a intelectualidade.
Campinas foi onde este esforço foi fundamental para consolidar o partido em toda uma região. Além da própria cidade, onde fomos os principais impulsionadores da candidatura de Paulo Búfalo para prefeito, que obteve 10.107 votos, impulsionamos candidaturas em Hortolândia, Sumaré e Santa Gertrudes com 18 candidatos a vereador, sendo 4 em Campinas. Em Hortolândia o candidato a vice era do Enlace e em Sumaré a chapa majoritária se reivindica da corrente. No meio do processo eleitoral, no dia 6 de setembro, os companheiros realizaram uma plenária com o tema ?Os socialistas e as eleições? que contou com a presença de mais de 60 companheiros e membros da Coordenação Nacional (Berna; Francis; João Machado e Maringoni), num esforço para politizar o processo e ajudar na formação dos militantes. Ainda em SP, outra importante intervenção do Enlace foi em Santos, com o lançamento da companheira Eneida numa disputa majoritária, onde nos consolidamos como direção partidária e Eneida como personalidade política de esquerda na região.
Não menos importante foi o papel que cumpriu Francis, acompanhando e orientando candidaturas do Partido em todo o Estado. Sai das eleições como parte importante da direção estadual do partido.
No caso do RS podemos dizer sem medo de errar que o PSOL sai mais fortalecido e conseqüentemente o Enlace também. O partido disputou em 15 prefeituras no estado, o Enlace esteve presente ou apoiou candidaturas a prefeito/a e vereador/a em seis delas, (Porto Alegre, Novo Hamburgo, Santa Maria, Pelotas, Canoas e Viamão). Em Novo Hamburgo o companheiro Ralfe fez 8.933 votos (6,34%), uma excelente votação como candidato a Prefeito. Em Santa Maria, a candidata a Prefeita Sandra Feltrin, foi uma companheira independente com boas relações com o Enlace, também teve excelente votação alcançando 10.360 votos 7% dos válidos.
No caso de Porto Alegre, onde o MES com a Luciana Genro controla o partido e hegemoniza a militância, tivemos a tática de lançar Lucio Barcelos, um companheiro independente para vereador, com um conjunto de outras organizações e coletivos ? C-sol, Refundação Comunista, AS- Neida e o Núcleo 1º de Maio.
Nossa candidatura obteve 1.230 votos e ficamos na primeira suplência. Com boas chances de assumir daqui a dois anos já que as votações de Pedro Ruas, Sandra Feltrin, Ralfe e Geraldinho -10.838 votos, garantem um deputado estadual. A campanha foi centrada na questão da saúde pública como eixo político e combinamos o trabalho de massas com reuniões e atividades nos locais de trabalho onde tínhamos inserção, determinada pela sua disciplina e sua abnegação em defesa da saúde pública e do SUS. Além disso, Lucio teve um bom resultado, se considerarmos que mais uma vez, além de lutar contra as máquinas dos partidos burgueses e do lulismo, tivemos que enfrentar a máquina do MES e suas candidaturas preferenciais. E não menos importante enfrentamos o sectarismo de alguns de nossos aliados, que durante toda a campanha resistiram a uma campanha de massas ou até mesmo se recusaram a fazer a campanha.
Pedro Ruas (2º mais votado da Capital) e Fernanda, foram eleitos graças ao bom desempenho eleitoral de Luciana Genro, somados aos esforços coletivos de todo o partido. Pedro Ruas, mesmo tendo 50% de todo o horário eleitoral e candidatura prioritária do partido, fez menos que a legenda do partido (13.759) que acabou puxando a Fernanda com seus 2.984 votos. Foram 42.411 votos somados entre a legenda e os proporcionais, uma votação espetacular para o partido. Sem dúvida alguma houveram erros políticos, metodológicos e que precisam ser corrigidos para que o partido possa dar um salto na sua organização e consolidação.
Em Pelotas, onde o PT é muito forte e já foi governo, a candidatura de Cláudia para vereadora conseguiu rearticular um núcleo de companheiros na região e impulsionou a companheira como uma das pessoas centrais do Psol na cidade. Estamos plantando para o futuro.
As eleições obrigaram os militantes a fazer política para as massas, exigiu um maior comprometimento na construção e defesa do partido e todos que participaram desse processo saem mais formados politicamente. Os resultados demonstram as possibilidades de crescimento do partido. Independente dos números os companheiros do Enlace saem desse processo muito mais fortalecidos e reconhecidos como quadros políticos do PSOL na suas regiões.
Tirar lições dos resultados
Temos consciência que quando entramos para a disputa eleitoral a quantidade de votos obtidos é, em certa medida, a expressão de nosso acúmulo e possibilidades futuras, mas também sabemos que isso por si só não diz tudo, pois temos uma experiência recente do PT que ampliou sua base eleitoral em detrimento de uma trajetória que poderia levar o país à transformações consistentes e antiimperialistas, como em outros países da América Latina.
No atual momento da luta de classes no Brasil em que estamos prensados por uma direita histórica e pelo petismo endireitado, estamos numa situação de nítida defensiva. Deveríamos ter combinado mais a disputa externa eleitoral com a construção do partido. A campanha deveria servir também para melhorar a dinâmica de funcionamento interno, fraterno e plural como deveria ser o Psol, o que não aconteceu.
Podemos apontar dois problemas que poderiam ser evitados se tivéssemos um funcionamento mais harmonioso e democrático. O primeiro é político por se tratar do financiamento de campanha, onde a falta de planejamento e unidade fez com que o setor majoritário do partido assumisse para si a responsabilidade de tocar a campanha, sem levar em consideração a construção do partido. Nessa situação, o MES em Porto Alegre concluiu que teria que aceitar dinheiro da Gerdau independente da oposição das demais forças do Psol. Desrespeitando até mesmo as instâncias nacionais. Esse foi o problema mais grave de toda a campanha do PSOL em nível nacional. O resultado eleitoral vai abrandar o balanço, mas o conjunto do partido terá que tomar uma posição mais democrática sobre os financiamentos de campanha. Mais do que isso, teremos que construir um pacto de funcionamento do partido. Por que com resultados favoráveis, os erros ficam mais brandos, mas não poderemos continuar construindo um partido onde a força do aparelho determine convenientemente os caminhos do partido.
O segundo problema são as velhas conhecidas questões metodológicas. Não funcionamento das instâncias, falta de equipe de direção, inexistência de Comando de campanha plural e unitária. Prioridades impostas pela força do aparelho, desrespeito aos demais setores etc, todos esses problemas estavam e estão a serviço de uma política. Quando as instâncias são contrárias, o melhor para quem tem o controle do aparelho é que a mesma não funcione. E no mínimo, foi isso o que aconteceu em Porto Alegre e em menor medida em São Paulo.
Claro que com o resultado eleitoral os companheiros que orquestraram essas políticas vão dizer que estavam certos em não reunir ou consultar os demais companheiros, mas e se o resultado fosse outro? Por outro lado, acreditamos que o resultado poderia ter sido melhor com uma política correta desde o início e uma coordenação de campanha mais eficaz que mobilizasse não apenas os quadros políticos, mas que conseguisse ampliar o núcleo diário de militantes jogados para a campanha da majoritária.
Se pegarmos os dois exemplos mais positivos da campanha nacional do partido, como é o caso de Fortaleza e de Porto Alegre veremos uma diferença gritante de opções. O quadro mais geral traz os seguintes dados: votos válidos Poa = 789.999; Fortaleza = 1.183.720. Em Porto Alegre concorreram 8 candidatos a prefeito/a e em Fortaleza 9, mas em ambas, os candidatos do PSOL disputaram com duas outras candidaturas que reivindicavam o governo Lula. Rosário e Manuela em Porto Alegre e Luiziane e Patrícia em Fortaleza. Nas duas capitais os candidatos do PSOL chegaram em quarto lugar.
Fortaleza elegeu o João Alfredo como o vereador mais votado e o Renato que foi candidato a prefeito, obteve 67.080 votos ou 5,67% dos votos. Não tínhamos parlamentar, não fizemos coligações, não pegamos dinheiro da Gerdau e tivemos um gasto de aproximadamente R$ 50 mil reais. Em Porto Alegre, foi feita a coligação com o PV, mais R$ 100 mil da Gerdau e um gasto total de R$ 250 mil reais. Luciana obteve 72.863 votos ou 9,22% e elegemos dois vereadores. Os desgastes assumidos pelo setor majoritário e conseqüentemente pelo partido no Sul foram muito grandes e desnecessários se comparados com os resultados alcançados.
Para nós o fundamental é que em Fortaleza os companheiros acreditaram na unidade do partido, no esforço comum para construir um partido novo contra a velha política. E em Porto Alegre, a disputa e a preocupação de manter o controle do partido a qualquer preço levou os companheiros do MES e seus aliados a tomar decisões equivocadas, reproduzindo os mesmos métodos da velha política.
Para nós o balanço geral da participação do partido no processo eleitoral em nível nacional foi positivo diante das enormes dificuldades enfrentadas. Agora é hora de aprendermos com os erros e repactuarmos um funcionamento democrático. Sem esse acordo e o comprometimento de todos com o funcionamento e respeito às instâncias vamos repetir os erros e abortar um potencial crescimento que o partido pode ter fruto dessas eleições. O fundamental é que as eleições se deram numa conjuntura de aprofundamento da crise financeira nos EUA e que terá reflexos negativos sobre a economia brasileira. Nos próximos meses o mundo estará enfrentando uma brutal recessão. O debate sobre alternativas políticas entra novamente em cena depois de anos de consenso neoliberal onde a política e a economia estavam a serviço do capital fictício. O desafio da esquerda será apresentar propostas que dialoguem com as massas embriagadas de individualismo, consumismo e conformadas com o ?pensamento único? da burguesia e o clientelismo do governo Lula.
A busca de uma nova síntese no Psol deve passar necessariamente pela busca de critérios para a questão do financiamento de campanha e clareza na tomada de decisões sobre alianças futuras. A esquerda precisa de figuras públicas, mas sem partido as figuras serão apenas figuras estéreis, sem capacidade de mudar a realidade. Temos a convicção de que a melhor ferramenta para operar mudanças e disputar o poder é o partido político construído com objetivos para além dos processos eleitorais. Um partido que tenha aprendido com os erros cometidos pela esquerda no passado e que saiba superar as diferenças internas.
A partir da reunião da direção nacional do Enlace teremos este balanço enriquecido por uma avaliação nacional do processo e poderemos a partir daí termos uma visão mais global da disputa política e a possibilidade de uma reorganização das alianças internas onde o nosso papel, o papel do Enlace, deve ser o de construir a unidade com os setores que combatem o sectarismo e ao mesmo tempo tenham um claro compromisso de reverter a atual forma de funcionamento precário e desordenado do partido em nível nacional. Acreditamos que o Enlace está mais forte para incidir nesta disputa e temos a responsabilidade de ocupar um maior espaço no interior do partido no próximo período.
Mário Azeredo
Porto Alegre, 23 de outubro de 2008.