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Crise no Peru: O verdadeiro golpe foi dado pelas oligarquias pró-imperialistas.

[Crise no Peru: O verdadeiro golpe foi dado pelas oligarquias pró-imperialistas.]

A destituição de Pedro Castillo faz parte da polarização internacional entre esquerda e extrema direita.

A eleição para presidente do Peru foi entre Pedro Castillo e Keiko Fujimori em 2021. Castillo era um professor sindicalista da zona rural do Peru e que nunca havia participado das disputas eleitorais em nível nacional. Inclusive as próprias zonas rurais daquele país sempre estiveram à margem dos processos eleitorais e excluídas de tomadas de decisões. O processo eleitoral foi acirradíssimo, com uma diferença de pouco mais que 40 mil votos. E foi questionado pela candidata derrotada Keiko Fujimori. Keiko é filha do corrupto e protofascista ditador, Alberto Fujimori, que governou o Peru por 10 anos consecutivos (1990-2000). Em 5 de abril de 1992, Fujimori dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura, em colaboração com as Forças Armadas. Ele foi acusado de perseguir, sequestrar e matar opositores com o aparato militar e uma rede de veículos de imprensa sensacionalistas, além de ter organizado a esterilização sem consentimento de mais de 300 mil mulheres, a maioria indígenas e pobres, com auxílio dos EUA.

Com pesadas acusações de corrupção, violações dos direitos humanos, foi sentenciado e condenado em 2009 a 25 anos de prisão pelos sequestros e assassinatos feitos pelo esquadrão da morte conhecido como “Grupo Colina”, que lutou contra as guerrilhas de esquerda na década de 1990. Fujimori pai, fugiu do país e sofreu impeachment no final do ano 2000.

Keiko Fujimori é uma maçã podre que não caiu longe do pé. Em outubro de 2018, foi presa por 3 anos por lavagem de dinheiro. Em 2021, concorre a Presidente do Peru e perde por uma pequena margem de votos. Não reconheceu o resultado eleitoral e no primeiro mês de governo de Pedro Castillo, as forças conservadoras, de direita e ultraliberais já tinham articulado um processo de impeachment. Castillo assume o governo em 28 de julho de 2021.

O Parlamento é unicameral e dominado pela oposição de direita. Das 130 cadeiras de deputados, o partido de Castillo-Peru Livre- tem 37 cadeiras e com essa correlação de forças, em um ano e seis meses, sofreu 3 pedidos de impeachment.

O Peru vive uma crise política e institucional gigantesca. Desde 2016, o Peru teve seis presidentes. São seis anos de crise econômica, pandemia e crise política e do desgaste do regime democrático burguês, cuja a representatividade através dos partidos não cumprem o papel de representar os anseios da maioria da população. 80% da população peruana vive na informalidade. Aliado a essa situação, os partidos de esquerda se acomodaram, se institucionalizaram e, acabaram abandonando a perspectiva revolucionária. São aparelhos que se constituem através das lutas dos trabalhadores, mas não se atrevem a cumprir suas promessas de campanha, nem de enfrentar as classes dominantes de seus países. Praticamente, todos os partidos em nível mundial fazem política restritamente dentro do espaço da "pequena política " aquela política de conchavos, acordos, salas para ganhar dinheiro nos orçamentos secretos, como alertava Gramsci, abandonaram a grande política.

Essa mudança geral no comportamento da esquerda e a brutal crise do sistema capitalista, que nada cede para as classes trabalhadoras e populares e tudo dá para o capital financeiro e as grandes corporações, leva as nações a crises crônicas.

Pedro Castillo errou

Não por tentar resistir aos setores golpistas que paralisam os presidentes eleitos no Peru. Castillo, errou por não ter articulado com os quadros de seu partido e principalmente por não ter chamado as massas por uma constituinte soberana. Com propostas claras para tirar o país da crise econômica. Castillo se isolou.

Ao tentar dissolver o Congresso temporariamente e chamar eleições para um Congresso Constituinte, ele acelerou o processo de impeachment e cometeu um suicídio político.

Pedro Castillo errou, por não ter levado em conta a consciência das massas e da vanguarda. Agiu sozinho, como qualquer indivíduo acuado que não tem uma organização política com experiência de combate. Errou por confiar no regime, sem levar em conta que a correlação de forças era desfavorável a um presidente "desconhecido"- que estava no governo há um ano e meio e não resolveu nenhum problema estrutural da população. Um governo que foi péssimo no enfrentamento da Covid-19. Errou também por não ver que a correlação de forças dentro das instituições do Estado, inclusive das Forças Armadas, era oposição ao governo dele e não embarcariam nessa aventura.

Castillo cumpriu um desserviço ao conjunto da esquerda latino-americana ao não calcular que sua ação poderia ser utilizada pelos setores da extrema direita e a direita tradicional, para aumentar as pressões e chantagens contra qualquer proposta que os governos progressistas venham a fazer nessa conjuntura de extrema polarização entre esquerda e direita, pelos rumos da América Latina.

Porém, não podemos tratar o desespero de Castillo como se fosse o central na situação. Não temos dúvidas que as oligarquias peruanas, corruptas e pro-imperialistas, fabricaram essa situação. Assim como a OTAN e o imperialismo são os responsáveis pela guerra contra a Rússia. Nosso país vizinho sofre as conspirações e boicotes por parte da oligarquia local que está a serviço dos EUA, contra qualquer tentativa dos setores progressistas, como Pedro Castillo, de distribuir renda e defender a soberania nacional. Seu programa atingia o coração das oligarquias corruptas e privilegiadas, ao defender uma nova Constituição que nacionalizava o gás, os poços de petróleo, o ouro e a prata. Castillo defendia revisar todos os contratos com as multinacionais para que, em vez de ficarem com 70% dos lucros e repassar os 30% restantes para o Estado, inverter essa proporção a favor do Estado peruano. Também defendia que 10% do orçamento nacional fosse para à educação e a saúde pública. Portanto, o verdadeiro golpe é dos setores que pautaram três vezes o impeachment do presidente eleito e paralisaram qualquer ação do governo ao se negarem a votar qualquer medida que pudesse tirar o país da crise econômica, social e política.

Com a palavra o Povo peruano e a classe trabalhadora que odeia as oligarquias e que também queriam a destituição desse Congresso Nacional, tomado por representantes corruptos e pró-imperialistas.

Fortalecer o PSOL
08-12-2022

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