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Everton Vieira: A luta LGBT e a Revolução Cubana

[Everton Vieira: A luta LGBT e a Revolução Cubana ]

Como disse Mariela Castro: "Embora haja uma revolução, a consciência não mudou rápido o suficiente entre muitos revolucionários. Gostaria que fosse mais rápido, mas não perco a esperança."

Toda análise anacrônica sobre o passado deixa de considerar o momento histórico, comete erros já que atribui pensamentos e sentimentos de tempos diferentes. 

Em janeiro de 1959 o movimento armado liderado por Fidel Castro destituía o ditador Fulgêncio Batista.
Viva o revolucionário Fidel e a Revolução Cubana!

Em julho de 1969, no bar Stonewall Inn em Nova York o estado mais uma vez reprimia as LGBT que constantemente eram torturadas, presas e assassinadas. A reação das LGBT oprimidas é inspirada até os dias de atuais.
Viva a negra trans Marsha P. Johnson e a rebelião de Stonewall Inn!

Considero essas duas datas históricas o símbolo da luta pela emancipação humana e a importância para entendermos a Revolução Cubana e o movimento LGBT. Tanto em Cuba como em Nova York a repressão contra LGBT existia e era institucional, reparem nas datas dos dois acontecimentos.
Antes do golpe de 1964 no Brasil as LGBT também eram perseguidas e descriminadas, mas depois do golpe a situação piorou, consideravelmente, pois a vida não era fácil para as pessoas trans e com sexualidades dissidentes, inclusive, dentro do Partido Comunista Brasileiro e outras organizações de esquerda.

É preciso entender em que momento da história a Revolução Cubana aconteceu e qual era a situação das LGBT no mundo naquele período, principalmente, na América Latina onde as religiões do livro (cristianismo, judaísmo e islamismo) tem forte influência. Atualmente, muitos grupos de resistência ao fundamentalismo agem dentro dessas instituições religiosas e ainda não são capazes de conter o preconceito por eles disseminados. 

É preciso entender que Fidel e Che eram homens a frente de seu tempo, obviamente, com suas limitações, são seres sociais que aprenderam muito do que não precisavam ter aprendido, herdaram muito dos preconceitos que foram cultivados dentro do capitalismo e a população cubana também carregou essa herança maldita.

A obra do grandíssimo Michel Foucault: "A História da Sexualidade", pode nos ajudar a entender como se deu essa opressão estrutural e por vezes estruturante do sistema capitalista e a instauração de uma sexualidade economicamente viável, a heterossexualidade compulsória ou heternormatividade como gostamos de chamar hoje.

A Revolução Cubana aprendeu a lição, e Fidel quando estava vivo compreendeu a discussão e a necessidade de se avançar em direitos relacionados a população LGBT.

A filha de Raul, Mariela Castro é uma das maiores militantes da causa na ilha. Cuba hoje tem uma postura forte em defesa dos direitos LGBT, no combate a homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia.

Fidel Castro teve a chance de falar sobre a repressão contra a população LGBT no início da revolução cubana:

"Tínhamos então tantos problemas de vida ou morte que não prestamos a devida atenção ao assunto. Cometemos grandes injustiças e o maior responsável fui eu. Era uma cultura que acontecia igual com as mulheres porque o machismo foi herdado, e nós sabemos muito bem como se herdou tudo isso, ele foi cultivado na sociedade capitalista. É uma herança, e nós éramos bastante ignorantes. Eu não vou me defender disso agora, porém, a parte da responsabilidade que me corresponde, eu a assumo. Eu não entendia, certamente, não compreendia, eu tinha outros conceitos com relação a esse problema. Com o passar dos anos, uma população muito mais culta, mais preparada, foi superando esses preconceitos."


Hoje as LGBT participam em bloco do ato do primeiro de maio que também é o mês do dia Nacional de combate a LGBTfobia. O meio de divulgação é através da programação televisiva que foca no debate desse tema, esclarecer a população do que acontece para erradicar o preconceito. .

A população LGBT em Cuba ainda sofre um preconceito que é histórico na América Latina, que não é fruto de políticas institucionais necessariamente. O governo revolucionário tem absorvido as demandas do movimento nos últimos anos, a discussão LGBT em Cuba faz parte de um dos segmentos mais mobilizados da ilha. O dia de combate LGBTfobia em Cuba não tem caráter meramente simbólico, as emissoras educativas, recreativas e informativas fazem o debate em seus horários nobres, os teatros e estádios são ocupados também pela discussão e tudo isso só foi possível através da revolução e da pressão dos segmentos na ilha.
Cuba aprovou as cirurgias de redesignação sexual e proibiu a discriminação contra lésbicas, bissexuais e transexuais no local de trabalho nos últimos anos.

Como disse Mariela Castro: "Embora haja uma revolução, a consciência não mudou rápido o suficiente entre muitos revolucionários. Gostaria que fosse mais rápido, mas não perco a esperança."

Qualquer análise anistórica e desonesta sobre Fidel e a revolução cubana terá apenas meu desprezo, aquele desprezo que costumo ter pelo esquerdismo pequeno-burguês que é incapaz de entender as condições materiais e históricas e ainda se reivindicam marxistas.

Lutar pela memória de Fidel é lutar pela história dos socialistas e diante dessa enxurrada de calúnias e difamações eu não poderia deixar de me pronunciar.

Viva Fidel e a revolução Cubana!
Hasta siempre comandante!

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