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Everton Vieira: aliança com Maia desde o primeiro turno é uma desmoralização

[Everton Vieira: aliança com Maia desde o primeiro turno é uma desmoralização]

Nas eleições para a presidência da Câmara de Deputados Federais o PSOL precisar demarcar a defesa dos interesses populares.

Em primeiro lugar, aqui não se trata de uma discussão sobre esquerdismo infantil ou pragmatismo degenerado. 

É verdade que uma postura pragmática garante sempre algum ganho político imediato, seja ele um espaço na mesa diretora ou uma política menos antidemocrática em uma escala de tons de cinza.

É preciso levar em conta que conjuntura política polarizada demarcou fortemente os campos políticos no Brasil e isso é ótimo! É preciso manter as demarcações para que nosso povo saiba quem é quem. O grande marcador da divisão política do último período foi o Golpe de Estado de 2016, quando as elites brasileiras e todos seus aparatos político-jurídico e político-midiático se unificaram para desautorizar o voto popular e tirar a errante Dilma Rousseff da presidência sem nenhum crime que justificasse um impeachment. Não me alongarei aqui em caracterizar Dilma Rousseff e sua equivocada política de ajuste fiscal. Só digo que seria melhor que Dilma caísse atirando.

Os espertões do pragmatismo político nos lembram de que existe uma disputa com Arthur Lira, apoiado por Bolsonaro. E vocês conhecem Baleia Rossi, o candidato de Maia?

A dificuldade dos que defendem a frente com Maia é compreender que um ganho político mesquinho com ele pode se tornar uma desmoralização política para todo campo da esquerda e construir um cenário com uma correlação de forças muito pior. Inclusive reforça a narrativa que deu vitória a Bruno Covas que dizia que a direita tradicional era adequada e a esquerda era um tipo de Bolsonaro às avessas. 

Vejam o exemplo do PCdoB, principal representante na esquerda da “Frente Amplíssima” com Maia e que tomou uma pancada eleitoral nas duas últimas eleições e teve uma retração de votos gigantesca. A realidade impôs dois caminhos para o PCdoB: voltar a fazer política no campo da esquerda ou fundir-se com um partido mais à direita para não sumir. 

Sobre o artigo de Freixo que fala em “democratas”, é preciso pontuar algumas coisas: a primeira é que Freixo está falando do PMDB, PSDB e DEM e a segunda é que há uma herança maldita da ditadura militar. Ambos estiveram na linha de frente do Golpe de 2016, ou seja, querem convencer quem com essa linha degenerada? Freixo é um grande quadro político da esquerda brasileira, mas está precisando “se reencontrar consigo mesmo”. 

Maia não é igual Bolsonaro, concordo com Fernanda Melchionna, mas o quanto essa aliança fortalece o próprio Bolsonaro em médio prazo. A linha justa é a de Glauber Braga que defende uma candidatura de esquerda. Quem diz que uma candidatura de esquerda ajuda o governo ou desconhece as regras ou quer de qualquer forma um apoio ao Maia desde o primeiro turno. 

O recado que passa para as massas trabalhadoras exploradas e oprimidas, de uma aliança com os golpistas desde o primeiro turno é a desmoralização política. Novamente, o combustível que alimenta o bolsonarismo e a antipolítica é: “são todos iguais” e o bolsonarismo é a política antissistêmica. O fato de Bolsonaro se apresentar como o candidato “antissistêmico” em 2018 é uma leitura pacificada na esquerda e mesmo assim os defensores da frente com Maia desde o primeiro turno não conseguem compreender a derrota política que podemos encarar em breve caso essa linha se concretize. A política é dialética e não tem fatalismos, mas será difícil se livrar dessa desmoralização de chamarmos de “novos aliados” os que ontem chamávamos de golpistas. 

Essa linha de “frente amplíssima” com DEM, PSDB, PMDB e derivados legitima toda a ladainha bolsonarista. A composição com Maia não enfraquece o Bolsonaro, isso é bobagem de quem ainda não compreendeu a nova dinâmica da disputa de narrativas. 

Aliança só no segundo turno das eleições e com um candidato menos bolsonarista que o delinquente do Baleia Rossi. Nesse sentido, Valério Arcary tem razão, a esquerda não pode ter duas caras. Não pode ter uma cara quando fala para o povo, e outra quando negocia com o Congresso Nacional.                                                                                                

A tarefa do PT, PCdoB, PDT, PSB e REDE, nesse momento, deve ser a de cerrar fileiras em defesa das conquistas históricas da classe trabalhadora, do SUS, da educação pública, do meio ambiente e contra o ultraliberalismo.

 

Everton Vieira é membro da Direção Executiva do PSOL/SP e parte da Coordenação Nacional do Fortalecer o PSOL.

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