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Everton Vieira: Amor & Sexo da Globo é lacre ou lucro?
A Globo pautar as questões de sexualidade e gênero é perfeito! Para outros, é bom, mas não resolve nossos problemas, por se restringir apenas à possibilidade de avanço em direitos sociais já alcançados por determinadas pessoas.
O papo é reto: a televisão é um local historicamente ocupado por gente privilegiada. Como dizia o velho Marx: "os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes". Segue sendo assim, pois aqui no Brasil não estamos acostumados com a direita tocando em pautas de sexualidade e gênero, mas isto acontece em boa parte do mundo, porque o dinheiro LGBT também é dinheiro.
Ocupar esses espaços e falar sobre sexualidade e gênero é importante para avançarmos em pautas específicas ou em direitos sociais que são hoje privilégios de héteros cisgêneros. Mas para a militância LGBT liberal, a luta acaba no avanço em direitos sociais e na inserção da população LGBT no consumo. Ponto!
Para nós, LGBTs socialistas, a batalha vai além disso. A nossa questão não é pura e somente igualar os direitos da classe trabalhadora. Por exemplo: para uma LGBT socialista, a reforma da previdência fortemente apoiada pelas organizações Globo também é pauta nossa e não é menos importante do que o Estado reconhecer casamentos homoafetivos. É uma questão de classe e não abriremos mão disso e nem secundarizaremos essa discussão, pois o recorte classista tem centralidade máxima em qualquer debate que façamos.
Para a militância LGBT socialista, um exército como o de Israel, que aceita mulheres, gays e lésbicas, não é um exército libertador se continua a ser imperialista e genocida, violando os direitos humanos do povo palestino.
A militância LGBT anticapitalista combate a miséria e toda a exploração da classe trabalhadora, e isso perpassa os direitos sociais para a população LGBT. Por outro lado, a militância liberal se resume pura e somente a igualar direitos sociais.
Nós, da esquerda socialista, temos por convicção a disputa de mentes e corações da classe trabalhadora, incluindo trabalhadoras e trabalhadores LGBT. Precisamos disputar todas as mentes e corações que ainda não estiverem em nossas trincheiras de luta.
Em resumo: para alguns, a Globo pautar as questões de sexualidade e gênero é perfeito! Para outros, é bom, mas não resolve nossos problemas, por se restringir apenas à possibilidade de avanço em direitos sociais já alcançados por determinadas pessoas.
Não há problema em comemorar essa possibilidade de avanço em direitos; só não podemos achar que a luta se resume a isso. Não há problema também em apontar as falhas do programa.
Camaradas, o que não rola é ir de "Globo golpista" para "Ai! que Globo lacradora!" tão rápido. Precisamos discutir qual o lucro que está gerando esse tal de lacre. E isso não muda o fato de eu ter ficado feliz em ver figuras como Jessica Tauane, Linn, Raquel Virgínia e tantas outras pessoas maravilhosas ocupando um espaço que não foi aberto por acaso e precisou de muita luta e sangue LGBT para se estabelecer.
É difícil não se orgulhar da companheira Linn quando conhecemos sua história de lutas e resistência.
Mc Linn da Quebrada é maravilhosa, mas a Globo segue sendo apenas golpista. Espero que me interpretem da melhor forma possível. Eu só quero ver a lacração, a irreverência e a subversão que nos é típica sambando na cara do capital e dos senhores que mantém nosso povo na miséria.