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O Brasil no caminho da Crise Mundial

[O Brasil no caminho da Crise Mundial]

Mário Azeredo

A crise econômica mundial tende a se agravar. As disputas econômicas, financeiras e geopolíticas inter-imperialistas irão se acirrar. O Brasil, como parte dos BRICs, países em desenvolvimento, que ainda não tinham sofrido os efeitos devastadores dessa crise, começa a senti-la. 2010 ano eleitoral se refletiu no PIB brasileiro. Com aumento dos gastos públicos e expansão do crédito, o governo garantiu a eleição de Dilma e, conseqüentemente, fez o PIB alcançar 7,5% de crescimento em relação ao ano anterior. Fechado os dados das riquezas produzidas pelo Brasil em 2011, podemos observar que as coisas estão mudando muito rápido. O PIB de 2011 ficou em 2,7% em relação ao PIB de 2010. O Brasil desacelerou! A culpa é de Dilma e do PT.


2012 será marcado por dois processos: o aprofundamento da crise mundial, que já começou a afetar o crescimento econômico do país e as disputas eleitorais, que mesmo sendo de caráter local, são determinantes para a manutenção ou mudança na correlação de forças inter-burguesas, onde o Petismo tem um papel de gerenciador dos diversos interesses de classe. São processos que vão se retroalimentando, porque a resolução de ambos passa por decisão política que determina novas configurações, que podem aprofundar a crise e a disputa, ou diminuí-las. Nesse quadro, o PSOL terá possibilidades de entrar com mais força na estrutura da classe trabalhadora organizada, porque teremos mais lutas e mobilizações. Assim como, se fortalecer na institucionalidade ao participar do processo eleitoral. Porque o PT, não só abandonou as bandeiras dos movimentos sociais, como hoje joga contra as greves e mobilizações dos trabalhadores.

Portanto, o que está acontecendo na realidade? Quais as conseqüências na vida dos trabalhadores e para o futuro do país?
São perguntas que temos que buscar respostas na atuação do governo federal. Dilma ao assumir o governo em janeiro de 2011, anunciou que faria um corte no orçamento de R$ 50 bilhões. Ao mesmo tempo reafirmou que continuaria garantindo as exigências dos ?organismos internacionais?, Banco Mundial e FMI, para o mercado financeiro.

Por isso, o Banco Central, manteve até pouco tempo os juros altos. No mesmo sentido, o governo federal garantiu o superávit primário, nos mesmos patamares anteriores (em 2011 economizou R$ 93,5 bilhões), tendo como meta de superávit para 2012 de R$ 140 bilhões, como forma de tranqüilizar os banqueiros e especuladores. Outra medida mantida pelo governo Dilma e que é um dos três pilares das políticas neoliberais e responsável queda brusca do PIB brasileiro é a política de liberação cambial e de capitais.

Ninguém em sã consciência, justamente num período de crise financeira e econômica mundial, considerada mais profunda do que a grande depressão de 1929, faria o que Dilma fez em 2011.

Corte no orçamento. Juros altos. Câmbio flutuante, sem controle de capital.

Essas medidas são a essência do liberalismo e do neoliberalismo financeiro dos anos 90 que Lula manteve e Dilma seguiu aplicando.
Só as filiais das multinacionais repassaram para seus países de origem U$ 38 bilhões de dólares em 2011. 25% a mais do que haviam enviado em 2010. Essa sangria de dólares se repete ano após ano, porque o governo brasileiro tem uma política de incentivo e isenções fiscais que beneficiam as empresas estrangeiras. E não tem política de controle de capitais. As ?multis? entram no Brasil, ganham terreno, subsídios e depois levam todo o lucro para seus países de origem.

As conseqüências só poderiam ser a queda da produção, déficit na balança de contas correntes e redução das exportações, com enxugamento do parque industrial nacional.
Agora Dilma critica o ?Tsunami Monetário? orquestrado pelos países imperialistas, como Alemanha e EUA. Porém, desde 2008, quando os sinais da crise chegavam ao Brasil e erroneamente Lula classificava-os como uma ?marolinha?, a política dos governos dos EUA e da Zona do Euro já era salvar seus bancos, emitindo papel moeda.  Não é à toa que os meios de comunicação, distorcendo a origem da crise, divulgam que os países estão endividados, como nos casos da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Omitem que os EUA é o país mais endividado do mundo. EUA e Europa, como imperialistas se dão ao luxo de emitir papel moeda para forçar uma guerra cambial. Reduzindo artificialmente o poder de suas moedas ? dólar e euro - para aumentar suas exportações. Essa política propicia que os bancos desses países aumentem suas reservas monetárias e estão invadindo os países em desenvolvimento, como no caso do Brasil.

As conseqüências são terríveis. O dinheiro que chega é especulativo, de curto prazo, interessado apenas em aumentar seu capital, o mais rápido possível, se beneficiando com a política de altos juros que o Brasil pratica há décadas.
A política do imperialismo europeu e americano é para aumentar o endividamento dos demais países. Os EUA injetaram trilhões de dólares em seu sistema financeiro e em suas multinacionais para evitar que elas quebrassem. Os europeus fizeram o mesmo. O Brasil corta verbas do orçamento de 2011. Dilma novamente repete o erro do ano passado e anuncia outro corte no orçamento de 2012 em R$ 55 bilhões.
Diferentemente de Dilma e da classe dominante brasileira, a China controla câmbio e capital há décadas, para evitar que a especulação de dólares e euros desestabilizem sua economia. O governo Chinês, ano após ano, amplia os investimentos e não se submete aos apelos dos governos imperialistas, nem dos organismos internacionais que estão a serviço dos EUA. Mas o Brasil, apesar do aprofundamento da crise mundial, mantém os três pilares do neoliberalismo, que beneficiam somente o sistema financeiro.

2012 entramos em uma nova conjuntura, onde a brecada do crescimento de 2011 fez com que a classe trabalhadora reagisse contra o aumento da exploração. Dados oficiais indicam que 25% da força de trabalho formal no país, sofrem com a precarização das relações de trabalho. Os trabalhadores sofrem assédio moral, para cumprir metas, estão trabalhando muito mais horas do que está no contrato de trabalho. E 35% da população economicamente ativa vive na informalidade. Essa é a cara do mundo do trabalho brasileiro, que governo e patrões querem aprofundar a exploração.

Estamos no primeiro trimestre de 2012 e a dinâmica é de maior enfrentamento dos trabalhadores contra os governos e empresários. Exemplo disso foi à greve dos policiais na Bahia e dos Bombeiros do Rio. A greve em diversos estados da Saúde Pública, como é o caso dos dois maiores hospitais públicos de Goiânia, onde os servidores da limpeza cruzaram os braços para exigir os salários, que estão há quatro meses atrasados. Ou a greve dos motoristas e cobradores de ônibus de Belo Horizonte, por aumento salarial, que os empresários dos transportes recorreram à justiça para derrotá-la. Uma greve que ainda não podemos avaliar o seu desfecho. A dinâmica de maior mobilização dos trabalhadores, também fica demonstrada pelo fechamento de inúmeras agências bancárias por parte do MST e pequenos agricultores do Rio Grande do Sul, exigindo do governo federal, recursos para combater as perdas das safras por causa da seca na região.

Nenhuma outra categoria sente mais e demonstra os efeitos do aprofundamento da crise econômica como a do setor da educação pública brasileira. No ano passado, a categoria mobilizou e fez greves em mais de 15 estados. Agora o ano começa com a maior paralisação da categoria desses últimos anos. São três dias de paralisação nacional dos educadores pelo piso. Esse processo apenas começou. Tende a se aprofundar, porque a política do governo é de arrochar os salários da classe trabalhadora e dos servidores públicos, como forma de garantir o superávit primário. Mecanismo de poupança dos gastos públicos, que serve de garantia para o pagamento dos juros e amortizações da dívida que o governo cultiva e que é responsável por 45% dos gastos do orçamento da União. Valor que chegou a R$ 708 bilhões em 2011.

Os índices de produção e desemprego nesse início de ano estão apontando para uma queda maior da produção industrial, em relação ao início do ano passado. O desemprego chegou a 9,5% em 2012. E o valor absoluto que é drenado todo ano para pagar a dívida pública, joga contra um verdadeiro desenvolvimento do país. A economia pode crescer, mas a desigualdade está aumentando. Com a ?bolsa família?, o governo pode propagandear que a miséria absoluta está reduzindo, mas a concentração de renda continua aumentando. Esses dados são a prova cabal de que o governo Dilma está no caminho errado. Precisa reverter a lógica neoliberal nas finanças e na economia brasileira. Nunca os banqueiros ganharam tanto nesse país!

Nacionalizar o debate nos processos eleitorais!

Temos que aproveitar as eleições municipais e as lutas dos trabalhadores para nacionalizar o debate sobre a saída para o Brasil. Esse país tem que ter um verdadeiro plano econômico elaborado pelas organizações sociais, onde o Estado o execute. Dilma tem que reduzir drasticamente os juros. Tem que implementar uma política de controle do câmbio e de entrada de capitais especulativos. Precisa investir mais, não cortar verbas do orçamento. Tem que aplicar em educação pública e saúde, não em pagamento de juros de uma dívida ilegal e inconstitucional.

A lógica do sistema é cortar as verbas para as áreas sociais, para repassá-las ao sistema financeiro. Mas as áreas sociais sofrem também com outra drenagem do dinheiro público que é a corrupção. A questão da área da Saúde, assim como as demais questões sociais sofre com a falta de verbas, mas desde os agentes municipais, temos uma epidemia secular que é o desvio de dinheiro público para clínicas e hospitais privados e os chamados filantrópicos. E nessas eleições esse tema deve ser parte do programa do partido. É um problema nacional, mas que é concreto para os milhões de brasileiros que vivem nos municípios sem qualquer condição de atendimento hospitalar. A corrupção foi pauta recorrente na vida dos brasileiros. Campinas e Porto Alegre, para dar dois exemplos sobre a importância de incluir esse tema nas campanhas eleitorais, foram dois municípios em que praticamente toda a população da cidade se envolveu neste debate. Em Porto Alegre o Secretário da Saúde foi assassinado e até o momento não existe culpado e nem sequer uma CPI foi criada para averiguar os desvios de verba.

Precisamos fazer uma auditoria na dívida pública brasileira, que ameaça estrangular o orçamento da União. Assim como, refazer os contratos das dívidas dos Estados com a União. Estados e Municípios perderam totalmente a sua autonomia para gerenciar recursos. O mecanismo da dívida é o instrumento adotado pelo sistema financeiro mundial para escravizar as nações. E esse mecanismo é utilizado pelo governo federal, para estrangular os demais entes federados.

A lógica imposta para a sociedade é da primazia do indivíduo, sobre o coletivo. Do privado, sobre o público. Por isso, vivemos em cidades abarrotadas de carros, ao invés de transportes públicos de qualidade. Por isso, o agronegócio recebe mais de 70% das verbas, mesmo quando é responsável por menos de 25% da produção de alimentos para a mesa do brasileiro. Essa lógica é insustentável. Nem a humanidade, nem a natureza suportam essa degradação. Temos que apontar a necessidade de suplantar o sistema capitalista, por um sistema socializante, que distribua a renda, a terra e proteja a natureza da ambição descontrolada pelo lucro.

O desenvolvimento tecnológico nos permite falar da redução drástica das horas de trabalho, tanto no campo como na cidade. Os meios de locomoção coletivos são melhores, mais seguros, mais rápidos e menos poluentes. Portanto, mais saudáveis para os bilhões de seres humanos.  
E na questão das decisões, da humanidade, de um país ou de um município, a democracia burguesa, através da democracia representativa, gerou uma repulsa em relação aos políticos vigaristas e seus partidos corruptos. Há hipocrisia dos representantes parlamentares, que eleitos com um programa, executam as ordens dos grandes capitalistas.

As escolhas dos políticos para sair da crise, atacando os povos, para livrar os banqueiros e empresários, que são os verdadeiros responsáveis pela crise, deixam claro para milhões de trabalhadores, que a democracia representativa que é a fachada utilizada pela burguesia para dominar o resto do povo, apresentada por eles como a forma ideal e possível para tomar decisões é uma farsa e se esgotou como ferramenta histórica para organizar e decidir os rumos da sociedade.

As novas tecnologias permitem que os mesmos milhões que saem para votar numa representação parlamentar ou num prefeito, governador ou presidente, podem, tranqüilamente, votar, facilmente, em todas as matérias que dizem respeito ao bem comum e social. Não é à toa que a burguesia europeia ? BCE, Banco Mundial e FMI -ficou apavorada com a possibilidade do povo grego participar de um plebiscito sobre qual a melhor saída para a crise da dívida daquele povo.
Essa bandeira, plebiscitos e consultas à população, deve ser parte de nosso programa. Democratizar as decisões, assim como a renda, e as riquezas é parte de um plano para desmascarar o sistema capitalista e construir uma nova sociedade.
14/03/2012

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