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O mundo não é mais o mesmo! A Mídia tenta manipular a realidade

[O mundo não é mais o mesmo! A Mídia tenta manipular a realidade]

Mário Azeredo - Executiva Estadual do PSOL-RS

Nos meses que fechavam 2010 vimos um terremoto cruzar a Europa. Começou na Grécia e se espalhou pela França, Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra.

O povo grego fez inúmeras greves gerais contra as exigências do Banco Central Europeu e o FMI. A política do sistema financeiro é avançar sobre as conquistas dos trabalhadores europeus.  A Previdência Social e o emprego são os alvos dos governos que querem colocar nas costas dos povos as conseqüências da crise econômica que iniciou em 2008 nos EUA.

Como se a responsabilidade fosse dos trabalhadores. Mas a mídia, que para alguns era considerada o ?quarto poder?, começa a perder esse status, com a revolucionária e democrática tecnologia da internet, através das ?comunidades? e celulares.
Os povos estão vendo que a crise que iniciou nos EUA foi produto de anos de desregulamentação das finanças. De anos de quebra do papel do Estado, descontrole das moedas, do câmbio e do sistema financeiro de conjunto. Liberalização/desregulamentação do comércio, cortes nos gastos públicos e privatizações. O Estado terceirizando os serviços sociais e de defesa em beneficio de grandes corporações.  Essa foi à raiz da crise americana.

Viemos de bolhas e bolhas de especulação e rapinagem de algumas corporações sobre o patrimônio e as finanças públicas.
Nos anos 90, elles construíram a bolha da economia de empresas de informática e internet. Bastava colocar um ?e? na frente do nome da empresa e colocá-la na bolsa de valores, para alguns espertos ganharem bilhões de dólares, sem ter produzido qualquer nova tecnologia.

Depois veio a bolha imobiliária: as empresas vendiam os imóveis, financiados e depois repassavam as dívidas no mercado de derivativos, os ?subprime?. Essa bolha cresceu tanto sem qualquer fiscalização do governo, que desencadeou a crise mundial de 2008.

Nos EUA quebraram centenas de instituições bancárias. As maiores só não faliram porque o governo as socorreu com bilhões de dólares do contribuinte. Mas a crise é mais profunda. As próprias montadoras tiveram que pedir dinheiro para o Governo Obama.  Essas ajudas do governo para salvar os responsáveis pela bolha imobiliária e pela falência de centenas de empresas menores e pelo recorde de desemprego, aumentaram assustadoramente a dívida pública americana.

As guerras de ocupação americana no Iraque e Afeganistão já consumiram mais de U$ 200 bilhões de dólares. Ao mesmo tempo em que a manutenção da ocupação aquece a indústria armamentista dos EUA, a manutenção das tropas e a instabilidade política causada pela ocupação cria um descontrole nos preços do petróleo e gás. Justamente o verdadeiro motivo dessa guerra.

O terremoto de luta de classes na Europa é parte da crise iniciada nos EUA. Não terminou e promete verdadeiros tsunamis sociais nos países desenvolvidos. Hoje estamos vendo o povo grego novamente se enfrentar com o aparelho repressor do Estado, que quer executar as medidas impostas pelo FMI e a direção da Comunidade Européia, através do Banco Central Europeu. São chantagens que os banqueiros estão fazendo ao governo grego. Ou acata as ordens e retira direitos dos trabalhadores, ou o governo não receberá um tostão de empréstimo dos organismos internacionais.

A Europa vai mais fundo na crise. Só na Espanha há mais de 20% de desempregados. O governo da Inglaterra está fazendo cortes violentos no orçamento das áreas sociais, como educação e saúde. A previdência Social é o principal alvo.

Do outro lado do Mediterrâneo, a revolução árabe avança sobre as dinastias e ditaduras. A mídia e os diplomatas dos países imperialistas e até mesmo do governo brasileiro, dão informações de que as populações árabes querem liberdade e por isso, saem às ruas em todos esses países do norte da África derrubando governos.

Essa é uma parte da verdade. O verdadeiro motor da revolução árabe é a crise econômica que atravessou o Atlântico em 2008, chegou na Europa e não poupou os países árabes. Na Tunísia, Egito, Iemen, Bahrein o desemprego é brutal. Na Arábia Saudita e na Líbia a proteção social desses estados fascistas não foi suficiente. Por isso, o rei saudita chegou de viagem com um pacote de concessões aos trabalhadores. O processo revolucionário que se abriu com a queda do ditador na Tunísia, não se fechou. É imprevisível o desfecho que terá na Líbia. Mas podemos afirmar que as revoluções do norte da África são parte de um processo maior, não são fatos isolados. São as dores do parto de uma nova correlação de forças internacional.

 A raiz de todas as mobilizações da Europa aos países árabes é a crise econômica construída pelo capitalismo monopolista e financeiro. Os poderosos e os economistas não querem admitir, mas não tem ?marolinha? pela frente. Nos próximos anos veremos mobilizações de toda a ordem e pelas mais diversas demandas. Emprego, salário, saúde, pão, terra e água serão os objetivos dos povos vítimas das ambições egoístas dos banqueiros internacionais e das grandes corporações, que querem lucrar até mesmo com os desastres ecológicos, com as guerras e com a crise econômica.

A mídia tenta esconder esta face da realidade, mas as massas estão usando os meios mais modernos para se comunicar e informar ao mundo o que está por trás das revoltas populares. O ?quarto poder? começa a entrar em sua fase decadente. Começa a perder o monopólio da informação e das versões dos fatos.  Está tendo que disputar essas versões com milhões de seres humanos que os vivem (os fatos) e os repassam para a rede mundial.

O mundo já não é mais o mesmo! Quando os europeus e os chineses entram no teatro de batalha da luta de classes, tudo começa a mudar. As revoluções árabes, que derrubam ditaduras títeres dos EUA, fortalecem o campo dos oprimidos e explorados no mundo todo.

A realidade dá mais uma vez razão ao velho Marx. Objetivamente a roda da história é a luta de classes.  Nesses últimos 35 anos, desde a queda do muro de Berlim até a queda de braços de Kadafi e a oposição na Líbia, estamos vivendo uma transição de um mundo em que a bipolaridade entre EUA e o stalinismo ?congelava? as iniciativas genuinamente revolucionárias para um mundo em que as questões objetivas retomam o seu papel de destaque, em relação aos rumos da humanidade. Ao não existir uma direção revolucionária, ou uma que mesmo não sendo revolucionária, tenha credibilidade entre as massas, pela própria necessidade objetiva de melhorar as suas condições de vida, as próprias massas vão empurrando para o lixo da história os governantes ditadores e corruptos que estão a serviço da manutenção da exploração imperialista.

Os EUA perdem espaço na geopolítica mundial com as revoluções árabes. Os batalhões da classe trabalhadora começam a se recompor, sem as amarras do stalinismo. Como está comprovado com as mobilizações e greves gerais dos trabalhadores europeus.  O motor das novas revoluções é a crise do próprio capitalismo, que não tem como apresentar saídas para as crises ecológica, alimentar, econômica e nem a financeira.  

A burocracia chinesa está sob tensão extrema, apesar de ultrapassar o PIB da economia japonesa, -Japão e China são os dois maiores detentores de títulos do governo americano, respectivamente. As massas daquele imenso país começam a exigir que a riqueza acumulada seja repartida. Sentem que a poupança que o governo está fazendo, comprando títulos do governo americano, não traz benefícios para o povo. Mas os novos ricos-burocratas não podem fazer mais do que já fizeram, sob pena de desestabilizar mais ainda o seu principal mercado consumidor - os EUA.

Apesar da linha ditatorial da burocracia-burguesa de Pequim, as manifestações estão ocorrendo e, diferente do desfecho que teve em 1989 (Massacre da Praça da Paz Celestial), o governo terá que ceder cedo ou tarde, porque dessa vez o processo está sendo gestado nas fábricas e espalhado pelo imenso território chinês. E, principalmente, porque as contradições no interior da China estão diretamente ligadas à crise econômica mundial e à resistência dos povos, como os da Europa e do mundo árabe. As condições de trabalho e de vida estão empurrando o povo trabalhador para enfrentamentos cada vez mais numerosos. ?Conforme fontes oficiais do governo, em 2005 houve um número estarrecedor de 87 mil grandes protestos na China, que envolveram mais de 4 milhões de trabalhadores e camponeses?(A Doutrina do Choque de Naomi Klein). De lá para cá, portanto, contando com o estouro da crise de 2008, as manifestações, em média, somam 20 mil por ano e estão sendo reprimidas violentamente pela polícia e pelo exército chinês.  Nesse caldeirão social estão se gestando novas direções do movimento social, camponês e sindical.

Nesse jovem século que estamos trilhando o dilema ?Socialismo ou barbárie?? está colocado na ordem do dia.  Podemos e devemos ser otimistas. O mundo está mudando rapidamente e abre possibilidades gigantescas para que a humanidade crie condições de suplantar o capitalismo por um sistema mais racional e justo.  Que evite a autodestruição e a degeneração da civilização humana.


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