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Passo dado na reorganização da esquerda: Boulos Presidente! Por Berna Menezes
“É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”
A aprovação, pelo MTST, da candidatura de Guilherme Boulos, junto com PSOL, quando confirmada, poderá ser o fato mais relevante, pela positiva, da conjuntura aberta pós-golpe.
Independentemente do peso do social do MTST ou do peso político do PSOL, é a primeira resposta positiva como alternativa à agenda ultra-neoliberal levada a cabo pelo birô "Temer, Congresso conservador, Judiciário partidarizado e mídia manipuladora. A alternativa se concretiza em uma candidatura, mas não termina no processo eleitoral. Ela vem como um passo dado na reorganização da esquerda brasileira. Abre-se um processo de síntese que não termina nas eleições, mas começa a construção do novo.
A candidatura Boulos não cabe na atual lógica das regras eleitorais. Ela é anti-regime. Ela é anti-sistêmica. Ela é uma coligação inédita entre um dos movimentos sociais mais expressivos dos últimos anos, no Brasil - o MTST, com o Partido que conseguiu, de forma não sectária, responder ao golpe e às mazelas que ele traz aos trabalhadores - o PSOL.
Se a esquerda tradicional não soube fazer a leitura do processo aberto em 2013, setores dos movimentos sociais e do PSOL disputaram com a direita as mentes e os corações dos insubordinados, que queriam mais. Mais mobilidade, saúde, educação, segurança, em fim, mais serviços públicos.
O MTST foi o movimento que saiu mais fortalecido deste processo, mas, junto com ele, inúmeros movimentos de mulheres, negros, causa indígena, mídias alternativas, LGBTs, todos tendo em comum o rechaço à velha política.
A candidatura Boulos segue movimentos que uma nova esquerda tem feito em todo o mundo. Respondendo à realidade como ela se apresenta, não se prendendo aos velhos esquemas, pois a vida é muito mais dinâmica e rica. Foi assim que o Bloco de Esquerda, em Portugal, construiu a engenhosa “Geringonça”, ou o processo que envolveu a candidatura às eleições norte-americanas de Bernie Sanders e a relação com o movimento Ocupe Wall Street. Ou ainda, a construção da França Insubmissa, com a candidatura de Mélechon.
A imprensa tem dado destaque aos setores críticos minoritários do próprio PSOL sobre a candidatura Boulos. Mas, mesmo sendo minoritários, não são secundários. Ao contrário, Plininho e Luciana Genro são companheiros valorosos e fundamentais para nosso partido. O centro de suas críticas, no entanto, é a ausência de debates entre as candidaturas que se postularam pelo Partido e Boulos, que " teria caído de paraquedas no PSOL" e que a Plataforma Vamos não é um programa.
Em primeiro lugar, Boulos não é uma candidatura só do PSOL, é do MTST, mídias alternativas e muitos outros movimentos. Portanto, a Conferência do PSOL pode tomar uma de duas escolhas: candidatura própria, então debateremos entre os que se postularam pelo PSOL ou em Aliança com os movimentos sociais que apresentam Guilherme Boulos.
O PSOL, mesmo quando o congresso, por ampla maioria, optou por apostar na aliança com Boulos, garantiu o "direito de minoria" aos companheiros que se postularam à candidatura a presidência pelo Partido e marcou a Conferência Eleitoral. Até porque Boulos não havia confirmado, ainda, a disposição de concorrer. Os demais postilantes não podem exigir debate e nem que Boulos aja como militante de um partido ao qual não pertence.
Assim como não participamos do debate interno do MTST, Boulos não participará de nosso debate interno até que formalize sua filiação democrática. Portanto, não foge do debate e nem cai de paraquedas, entra pela porta da frente e para orgulho de nossa militância.
A experiência do Vamos e a construção da plataforma também seguem a lógica dos novos movimentos, que com toda razão, desconfiam muito da atual estrutura partidária e dos partidos – vide experiência recente com o PT. Na sua construção foram realizados centenas de debates em todo o país, envolvendo milhares de pessoas. Não é um programa acabado e, sim, o levantamento de pontos importantes e caros a estes movimentos.
A construção de um Programa que represente esta aliança, entre a Plataforma Vamos e o Programa do PSOL para o processo eleitoral deste ano, é nosso grande desafio.
A candidatura entra em nova fase. No dia 25 deste mês, o MTST realizará um grande Ato lançando a candidatura. No início de março os movimentos sociais fazem seu lançamento. Dia 5 de março a filiação democrática ao PSOL e , em 10 de Março, a Conferência Eleitoral do PSOL.
Luciana e Plininho, justamente por sua importância, deveriam ser mais responsáveis no debate. Pois, assim como não viram o golpe, não entendem a movimentação inédita e desafiadora que estamos fazendo. Não entenderam o que o povo na Sapucaí entendeu : a cultura de brutal desigualdade e concentração de riqueza, fruto do atraso e a mácula de ter sido o último país a acabar com a escravidão, que se mantém através de um golpe, apoiado pela manipulação da opinião pública. Não entenderam que esse golpe é contra nós, a Classe Trabalhadora, através das contra-reformas.
Nada, porém, explica a forma desrespeitosa com que ambos tem levantado suas críticas. Mesmo assim, nós acreditamos que, com suas diferenças e ritmos, vão ser parte do novo.
Temos que ser mais generosos entre nós e saber trabalhar com diferenças.
Estamos vivendo uma conjuntura muito complexa, com intervenção das FFAA no Rio de Janeiro e a possível prisão de Lula. Dois fatos com resultados imprevisíveis, mas que reforçam nossa caracterização de que houve um golpe. Que exige construção de uma trincheira para enfrentá-la e, nesse processo, reorganizar a esquerda.
A candidatura Boulos vem para contribuir nesse sentido.
Berna Menezes- Executiva Nacional do PSOL