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Portugal: Protesto da Geração à Rasca

[Portugal: Protesto da Geração à Rasca]

300.000 nas ruas de Lisboa


Geração à Rasca

a escritora portuguesa Tania Alegria esclarece:

 

"Não encontrei uma maneira de dizer "à rasca" em brasileiro. Aqui, em Portugal, "à rasca" é o que dizemos quando estamos em ou com dificuldades. Por exemplo, poderias dizer, falando de um problema de matemática que tivesses dificuldade em resolver:

 

"Me vi à rasca para resolver esse problema". Ou, falando de dinheiro: "Estou à rasca para pagar as contas este mes". A geração à rasca é a dos jovens que não conseguem trabalho ainda que tenham um curso superior (e sobretudo esses); os que tendo um curso superior ou já tendo trabalhado nas suas profissões como engenheiros, advogados, arquitetos, ficaram desempregados e agora trabalham nas caixas registradoras das lojas ou como empregados de mesa nos restaurantes pelo salário mínimo (485 €); os que estão trabalhando com contratos a prazo sem garantia de continuidade; os que estão empregados e sujeitos a um contrato de trabalho mas passam recibos como profissionais liberais e portanto podem ser despedidos a qualquer momento sem aviso prévio nem justa causa; os que não tem acesso à segurança social em caso de doença; os que se ficarem sem trabalho não tem direito a subsídio de desemprego; os que se submetem a estágios não remunerados na esperança de conseguir trabalho e depois não conseguem porque os empresários os dispensam e admitem novos estagiários (a isso, noutros tempos, se costumava chamar escravidão); os que aos 25 ou 30 anos continuam morando em casa dos pais que, por sua vez, estarão desempregados ou aposentados e também eles à rasca pois as pensões, que estavam congeladas há dois anos, agora foram reduzidas em 10%. Isso é a geração à rasca.

 

Este é um país à rasca, com uma dívida externa de trinta mil milhões de euros a juros de 7%. A razão das medidas que levaram a essa situação é a prestação de contas que devemos à Comissão Europeia, ao Conselho Europeu e ao Banco Central Europeu e, muito especialmente à "Senhora da Europa", Angela Merkel que não nos perdoa as leis trabalhistas que eram mais favoráveis aos trabalhadores que as leis alemãs e por isso não nos admite um déficit orçamental acima dos 4,6% .

 

Deves ter visto que se uniram à manifestação muitas pessoas de meia-idade, e de idade mais avançada, porque esses também têm problemas de subsistência, os funcionários públicos tiveram seus salários reduzidos em 15%, nalguns casos foram cortados os subsídios de férias e de Natal.

 

Até mesmo o abono de família foi cortado nuns casos e reduzido noutros. Igualmente a participação do Estado preço dos medicamentos e exames médicos foi reduzida. Muitas empresas estão falindo e o resultado é um nivel elevadíssimo de desemprego, são 750 mil os desempregados registrados no Fundo de Desemprego e que recebem subsídio (que também foi reduzido), os demais não entram nas estatísticas e devem ser em maior número.

 

Já não se encontram nas prateleiras dos supermercados os produtos que costumavam ser mais baratos, agora só se encontram produtos caros e nalguns alimentos esenciais o IVA (imposto sobre o valor das mercadorias) subiu de 6% para 23%, como no caso do leite achocolatado que é o lanche tradicional das crianças em idade escolar."

 

Fonte: Tania Alegria-Escritora Portuguesa
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