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Ruda Ricci: A chance do PSOL amadurecer
O importante, contudo, para minha perspectiva de análise sobre tendências da política nacional, é que a candidatura de Boulos reordena internamente o PSOL e pode colocar o partido numa rota de crescimento maduro e consistente.
O cenário está posto. No próximo ano, a esquerda deverá contar com dois candidatos de esquerda à Presidência da República: um, do campo lulista, e outro, Guilherme Boulos, pelo PSOL.
A novidade é a ampla frente que Boulos, ladeado, entre outros, por Marcelo Freixo, deverá compor.
Antes de mais nada, é bom destacar que Lula tem um forte apreço por Boulos. Já o convidou para se filiar ao PT. Mas há diferenças importantes entre os dois. Boulos sustenta uma agenda mais à esquerda que a de Lula (contando com reforma tributária progressiva e plebiscito revogatório de todas medidas encaminhadas por Temer ao Congresso, entre outras) e exclui o PMDB do arco de alianças. Algo que Lula nem pensa em adotar.
O importante, contudo, para minha perspectiva de análise sobre tendências da política nacional, é que a candidatura de Boulos reordena internamente o PSOL e pode colocar o partido numa rota de crescimento maduro e consistente. Boulos contou com o apoio de 75% dos delegados do 6º Congresso Nacional do PSOL. O significativo deste apoio é que Plininho, Plínio de Arruda Sampaio Jr., se opunha a esta via e era apoiado pela organização de Luciana Genro, o MES (Movimento Esquerda Socialista, morenista). Não se trata, portanto, de uma vitória interna qualquer: os apoiadores de Boulos rejeitaram a proposta da ex-candidata do PSOL à Presidência da República e do filho de outro ex-candidato ao mesmo cargo pelo partido.
O que isto pode significar? Um ponto de estabilidade e maturidade do PSOL.
A candidatura de Boulos alinha uma série de nomes ao redor do PSOL. Primeiro, os já instalados neste partido, como Freixo e Luiza Erundina. Mas atrai outros nomes com perfil sólido e de grande envergadura, como Daniel Cara , coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Também atrai lideranças de outros partidos, como Tarso Genro.
Tal "troca de armas" pode significar o início da alteração da geração Lula para a geração Boulos na liderança de um projeto de esquerda no nosso país. Neste sentido, talvez seja o fato mais importante de 2010 para cá no que tange ao arranjo do bloco de esquerda no Brasil. Muito mais importante que a vitória de Dilma Rousseff, já que não por mérito próprio, mas por reflexo das gestões Lula.
Também poderá demonstrar o esgotamento precoce do lulismo enquanto política de conciliação de interesses e amplos arranjos de governo conhecido como Presidencialismo de Coalizão. Curioso porque o lulismo se apresentou como um pouso suave e não conflitivo de modernização do país, algo que teoricamente seria saudável às classes dominantes. Mas elas rejeitaram as boas maneiras de Lula, o estilo "onnibus" de colocar todos os adversários de sempre em lugares confortáveis. A aventura do impeachment desarranjou o país. Quebrou o PSDB ao meio, criou uma zona de insegurança jurídica, alçou ao estrelato um instável e provocador de extrema-direita (que ninguém aposta que sairá vitorioso no próximo pleito), gerou um total niilismo da grande maioria dos brasileiros em relação ao desempenho de representações políticas formais ou autoridades públicas.
O Brasil saiu pior deste impeachment. Mas esta renovação do PSOL pode ser um filho não desejado pelos que promoveram tal aventura, como um dia o PT foi uma surpresa não planejada por Golbery do Couto e Silva.