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Syriza rejeita ser "cúmplice" da austeridade e diz a Barroso que o problema é europeu
"Procuram um cúmplice para prosseguir o seu trabalho catastrófico – não os ajudaremos a tê-lo"
Syriza rejeita ser "cúmplice" da austeridade e diz a Barroso que o problema é europeu
"Procuram um cúmplice para prosseguir o seu trabalho catastrófico ? não os ajudaremos a tê-lo", declarou Panos Skurletis, porta-voz da Syriza. Os principais media europeus afetos à austeridade e às políticas neoliberais multiplicam entretanto cenários catastróficos para os gregos decorrentes da saída da Grécia do euro, que dão como certa.
Artigo | 15 Maio, 2012 - 11:21
Alexis Tsipras, presidente do Grupo Parlamentar da coligação de esquerda Syriza, retirou-se das negociações através das quais o presidente grego pretendia constituir um governo com base nos três partidos mais votados. "Procuram um cúmplice para prosseguir o seu trabalho catastrófico ? não os ajudaremos a tê-lo", declarou Panos Skurletis, porta-voz do grupo. Os principais media europeus afetos à austeridade e às políticas neoliberais multiplicam entretanto cenários catastróficos para os gregos decorrentes da saída da Grécia do euro, que dão como certa. Até o habitualmente comedido The Guardian considera que os gregos são "alérgicos" à austeridade.
Enquanto o cenário de realização de novas eleições parece cada vez mais próximo, o presidente grego prossegue as diligências para conseguir formar uma coligação, não sendo de excluir a possibilidade de tentar um governo minoritário dos dois partidos pró-austeridade, ao qual provavelmente nem a troika dará crédito de modo a levantar a suspensão das entregas de fatias dos empréstimos que pôs em vigor desde as eleições e como represália em relação aos resultados
Entretanto as sondagens que vão sendo divulgadas em Atenas continuam a dar uma possível vitória ao Syriza em novas eleições, o que vem acentuando as pressões de Bruxelas e do FMI, ecoando as incertezas dos "mercados", para que a Grécia se mantenha no caminho da austeridade apesar da "alergia" popular.
Julia Kollewe, no Observer, antevê desde já um penoso caminho em cinco etapas para os gregos, mas não só, a partir da paralisia eleitoral e do fim de toda a "ajuda" da troika. Seguir-se-iam então o regresso ao dracma, a híper-inflação, a fuga dos gregos do país e uma "onda de choque dos spreads entre os países" susceptível de produzir uma "terrível recessão mundial".
No editorial do Financial Times, Wolfgang Munchau defende tese diferente. Acha que o pior para a Grécia será continuar com a situação actual, que poderá provocar dez anos de depressão, uma inevitável saída do euro e "a abolição da democracia".
O dr. Durão Barroso, presidente da Comissão, declarou a uma estação de televisão privada italiana que "se os acordos não são respeitados isso significa que não estão reunidas as condições para continuação de um país que não respeita os seus compromissos".
A declaração de Barroso foi feita já depois de ter recebido uma carta do presidente do Syriza, datada de 10 de Maio, embora provavelmente, tendo em conta o conteúdo das palavras, não a tenha lido.
Divulgamos na íntegra o texto a mensagem de Alexis Tsipras ao presidente da Comissão Europeia, na qual chama a atenção para o facto de a solução para os actuais problemas globais estar ao nível europeu:
Envio esta carta depois de devolver o mandato exploratório que o presidente da República Helénica me deu para tentar formar um governo que conseguisse a maioria no Parlamento, de acordo com a nossa Constituição. Esta carta segue a de 21 de Fevereiro.
O voto do povo grego no domingo, dia 6, retira legitimidade política ao Memorando da Troika (MoU/MEFP), que foi co-assinado pelo anterior governo de Lucas Papademos e os dois partidos políticos que constituíram uma maioria parlamentar para esse governo. Esses dois partidos registaram perdas, aproximadamente 3,5 milhões de votos e 33,5 por cento da votação total.
De notar que, antes disso, o Memorando da Troka já perdera a legitimidade em termos de efectividade económica. Não apenas porque o Memorando falhou nos seus próprios objectivos. Falhou igualmente em resolver os desequilíbrios estruturais da economia grega e agudizou as desigualdades sociais. Durante os últimos anos, Syriza tem alertado para essas falhas endógenas. As nossas propostas para reformas concretas foram ignoradas por todos os governos com os quais a União Europeia colaborou intimamente.
De notar ainda que por causa do Memorando da Troika a Grécia é o único país europeu em tempo de paz que até 2012 viveu cinco anos consecutivos de recessão. Além disso, falhou em assegurar com credibilidade a sustentabilidade da crescente percentagem de dívida pública grega em relação ao PIB. A austeridade não pode ser a cura para a recessão. É imperativa e socialmente justa, no imediato, uma inversão dos caminhos da nossa economia.
Necessitamos urgentemente de assegurar a estabilidade económica e social no nosso país. Com este objectivo temos que tomar todas as medidas necessárias para reverter a austeridade e a recessão. Porque, além de carecer de legitimidade democrática a aplicação deste programa de "desvalorização interna" está a dirigir a nossa economia para um caminho catastrófico, o qual anulará, ao mesmo tempo, todos os pré-requisitos para a recuperação. A desvalorização interna provocou uma crise humanitária.
Além disso, necessitamos de reexaminar globalmente a estratégia actual na perspectiva de saber se representa uma ameaça para a coesão e a estabilidade social da Grécia e de toda a Zona Euro.
O futuro comum dos povos da Europa está a ser ameaçado por estas escolhas catastróficas e, por isso, a solução está a um nível Europeu.
10 de Maio de 2012
Alexis Tsipras