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Tese Levante! para o 13º CONEB da UNE

Juventude Levante e Contestação

UM PASSO À FRENTE E VOCÊ NÃO ESTÁ MAIS NO MESMO LUGAR

Olá! Se você está recebendo essa tese é porque saiu nessas férias, em pleno verão, para participar do 13º CONEB da UNE. Provavelmente, o seu curso está bem distante do que sempre imaginou. Olha o quanto gastamos com livros, transporte, xérox, comida, moradia e até com matrículas e mensalidade. Talvez você tenha escolhido um curso que não é bem como pensava, que cobra muito sem oferecer boas aulas, talvez esteja vendo muitos professores que são exemplos de péssimos profissionais.

            Bom, se você é um estudante e nenhum desses problemas lhe atinge, não precisa ler o resto. Se não, vem com a gente.

            Somos o Levante! Um coletivo de estudantes, um coletivo de movimento, de vida. Somos aqueles que não conseguem ficar sentados olhando pra tudo isso. Queremos transformar a experiência na universidade em uma coisa diferente. Não fechamos os olhos para as desigualdades que afligem os jovens e toda a população.

Lutamos por democracia, pluralidade e diversidade na educação brasileira. Uma educação que combata nossa cultura machista, que combata a homofobia, e que contribua para libertar e conscientizar. Que se oponha à qualquer hierarquia, ao autoritarismo do mérito, à hipocrisia dos títulos. Uma universidade para todos e todas, de forma igualitária, totalmente livre!    

Se grandes são os nossos sonhos, não podemos esquecer a nossa realidade. Por isso, nesse CONEB propomos dar um passo à frente. Vamos ser ousados, fazer algo novo, pensar novas formas. Ser Levante é pensar e construir nos DCEs, nos Centros Acadêmicos, em cada universidade e curso que atuamos um movimento estudantil capaz de reencantar os estudantes, acreditar na pluralidade das nossas ideias e lutar com autonomia.

Somos um coletivo nacional com gente que fala ?oxente? até gente que fala ?bah?, sem esquecer dos que falam ?porrrta? e ?coé, mermaum!?. Juntamos nossas experiências e sonhos numa construção maior. Chamamos você para se juntar a nós e tornar esse horizonte ainda mais radiante. Uma nova sociedade e universidade começam por algum lugar.

É SONHAR, MAS CAVALGANDO O SONHO E INVENTANDO O CHÃO PARA O SONHO FLORESCER
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

Este não é um ano qualquer. Em nosso caminho estão colocados grandes desafios. Nas universidades, a precarização consequente do processo de expansão do REUNI é gritante, a grande maioria da juventude não tem acesso ao ensino superior. Se os recursos para a educação, saúde e moradia são poucos, por outro lado, o governo já liberou os leilões de privatização do pré-sal e entrega nossas riquezas as grandes empresas.

E quando se colocam desafios, nossa resposta precisa ser à altura. Até agora, o movimento estudantil não se mexeu. Já em Janeiro, estamos reunindo mais de 6.000 estudantes no Rio de Janeiro, poderíamos estar nas ruas, construindo juntos nossas respostas.

Porém, poucas vezes a proximidade de um evento nacional do ME foi encarado com tanta indiferença. Nesse CONEB não haverá nenhum debate de fôlego, nenhuma proposta de fato capaz de mobilizar o conjunto dos estudantes brasileiros, e também não há vontade de ir para as ruas.

Dentro disso tudo, a Oposição de Esquerda não tem sido capaz de apontar novos rumos. O Seminário de Uberlândia, em Outubro de 2010, foi construído por fora dos espaços da oposição e as bandeiras de unidade encontram dificuldades para sair do papel. Precisamos de mais do que só gritar contra a UJS e sua prática nos espaços da UNE.

O problema do movimento estudantil é maior do que as práticas da direção majoritária da UNE. Precisamos olhar para a nossa prática cotidiana, construir com o conjunto dos estudantes as nossas bandeiras e ações, reafirmar a autonomia a partidos e governos, e combater a burocratização e hierarquização das entidades estudantis.

Queremos uma nova cultura de movimento estudantil. Aliar nosso discurso às nossas práticas, superar a ?boa e velha conversa de forças?, o ?papo de homem pra homem?, os ?acordos de forças? que passam por cima do debate democrático e decidem o futuro do movimento estudantil. Mudar o movimento estudantil não é uma tarefa muito fácil e quem ainda tá parado, Levante!

NÃO DIGA QUE AS ESTRELAS ESTÃO MORTAS SÓ PORQUE O CÉU ESTÁ NUBLADO

    Os últimos oito anos de governo Lula carregam grandes contradições. Se, por um lado, os recursos destinados a programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, aumentaram, por outro, os lucros das empresas e bancos aumentaram muito mais, a ponto do então presidente afirmar que os ricos "nunca ganharam tanto dinheiro como agora". Vivemos a anestesia do discurso de que a crise não afetou o Brasil, enquanto obrigou governos da Europa a implementar ajustes que claramente prejudicam os trabalhadores.

    Se analisarmos as ações de governo como um todo, uma a uma, veremos que desde o início foram ações que privilegiavam os lucros das empresas e bancos em detrimento dos gastos sociais com saúde, educação, cultura, previdência, etc. O governo conseguiu construir um cobertor contra a crise, mas às custas da sociedade.

Um dos principais exemplos foi a questão da Reforma Agrária: o governo Lula assentou menos famílias que o governo Fernando Henrique Cardoso, e, mais do que isso, a concentração da terra aumentou. Ou seja, não só não houve avanços na Reforma Agrária como menos proprietários possuem hoje mais terras do que nos primeiros anos do governo FHC, a partir do avanço do desmatamento para áreas de plantação de soja, por exemplo.

    Não vamos esquecer a discussão do Código Florestal, projeto apresentado por Aldo Rebelo, do PC do B, que incorpora grandes pautas dos deputados ruralistas, como redução da Área de Preservação Permanente e a anistia das multas por desmatamentos, significando a legalização da grilagem e incentivando o aumento do desmatamento.
 
    No plano econômico, cerca de metade do orçamento continua destinado ao pagamento dos juros da dívida pública. O alarde sobre o pagamento da dívida externa esconde que, durante o governo Lula, a dívida pública chegou à marca R$ 1,6 trilhão de reais, segundo dados do Tesouro Nacional. Ou seja, boa parte do crescimento econômico alardeado está e será pago pela população ao longo de anos de uma dívida impagável que só tende a aumentar. Assim como outros países fizeram, a auditoria da dívida poderia colocá-la em patamares plausíveis. Hoje temos juros correndo sobre juros e uma economia sustentada à base do endividamento.

    A euforia do crescimento e da popularidade do governo durante os anos da era Lula, é explicável, mas podemos contestá-los. Porém a UNE se contentou com as ações do governo e tem sua autonomia perdida quando se furta a fazer as discussões e críticas necessárias, levando assim a um descrédito cada vez maior entre os estudantes.

O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO! CONTRA OS LEILÕES DO PRÉ-SAL

As últimas descobertas de reservas de petróleo podem colocar o Brasil entre os principais produtores do mundo dessa riqueza. Essas são as reservas de petróleo que estão abaixo da camada de sal, o dito pré-sal. Tal descoberta pode resolver os problemas de falta de recursos que os governos insistem em dizer que causam o caos que existe na Saúde ou dos parcos recursos destinados à educação. Mas pra onde esse dinheiro tem ido?

    Vários movimentos sociais estão construindo a Campanha ?O Petróleo Tem Que Ser Nosso!? em clara alusão à histórica campanha encabeçada pela UNE na década de 1940 ?O Petróleo é Nosso!?. Passado mais de meio século, estamos novamente diante do dilema de fazer das riquezas naturais do Brasil fonte de recursos para seu povo ou fazer de fonte de recursos para as empresas estrangeiras.

    Durante o Congresso da UNE de 2009, depois de uma grande pressão da Oposição de Esquerda, em particular do Levante!, a UNE aderiu à Campanha ?O Petróleo Tem Que Ser Nosso!?, meio a contragosto e bem diferente dos anos da sua fundação. Isso porque o principal enfoque da campanha é a luta contra os leilões dos poços de petróleo, que são organizados pela Agência Nacional do Petróleo, presidida por um membro do PC do B, partido que dirige a UJS e a UNE. Ou seja, todo o modelo privatista que foi organizado pelo governo Fernando Henrique não só foi mantido pelo governo Lula como contou com a conivência da UNE, através de sua direção majoritária da UJS.

A campanha em defesa de 50% do fundo social para a Educação optou por tratar de forma rasteira a questão. Quanto é o fundo social do pré-sal? 50% de que? Enquanto isso, continuavam os leilões...

E pra piorar, a proposta aprovada pelo Congresso e tão exaltada pela UNE, foi vetada pelo presidente. O atual ministro de minas e energia, Edison Lobão, já anunciou os leilões dos poços do Pré-Sal. Ou seja, aquele debate entre Dilma e Serra, sobre quem era mais privatista, mostra que, ao contrário do que se imaginava, os leilões não só vão continuar no Pós-Sal, anunciado já para o 1º semestre, como também vão acontecer no Pré-Sal,  no 2º semestre. E a UNE não fala nada!

    Nós, do Coletivo Levante, participamos ativamente de uma campanha que defende 100% do petróleo para o povo brasileiro, pela retomada do monopólio estatal pela Petrobrás. Durante o CONEB você vai encontrar banquinhas da campanha O Petróleo tem que ser Nosso. Aproveite e leve materiais para o seu curso. Vamos espalhar os Comitês em Defesa do Petróleo pelas Universidades do Brasil.

A NOSSA LUTA É TODO DIA, EDUCAÇÃO NÃO É MERCADORIA.

A expansão do ensino superior nas Universidades Particulares nunca esteve em um estagio tão avançado. Dos jovens de 18 a 24 anos, que frequentam o Ensino Superior, apenas 4% freqüentam o Ensino Público, de um total de 14%.

Este aumento se deu, na sua essência, pela implantação do Prouni- Universidade Para Todos, programa bem visto pelos estudantes na sua criação, porém, quando analisado, revelou uma política de  fortalecimento do ensino particular, em detrimento da educação pública e de qualidade como direito. Ao dar isenção fiscal a quaisquer universidades, mesmo àquelas não reconhecidas pelo MEC, o governo federal beneficia os empresários da educação, completando as vagas ociosas. Ao mesmo tempo, foge de sua responsabilidade de ampliar as vagas públicas e de inserir os estudantes carentes no Ensino Superior.

Os bolsistas deste programa são tidos como beneficiários do governo e não como sujeitos de direitos. Espera-se que eles se contentem com uma bolsa que, na maioria das vezes, é parcial e que não lhes garante ensino de qualidade nem assistência estudantil para sua permanência na universidade.

A propaganda pensada em defesa do programa, feita pelo governo federal, mostra o PROUNI como a salvação da educação superior, e o foco de combate à privatização do ensino e seus mega-empresários ficou em segundo plano. As mensalidades nunca estiveram tão altas, isso sem contar as muitas taxas acadêmicas, e com tudo isso, consequentemente, cresce o número de inadimplentes a cada ano.

Os estudantes inadimplentes devem ter o direito garantido de continuarem seus estudos. Educação é um direito, não um privilégio.

UNIVERSIDADE PRA QUEM?

A educação para nós deveria servir de instrumento de transformações sociais profundas diante da realidade que vivemos. A universidade que defendemos precisa romper com essa lógica que prevalece, devendo contribuir para o fim das desigualdades sociais, elevar a consciência da população, e trazer uma produção de conhecimento voltada para os interesses dos brasileiros como um todo.

Precisamos resgatar o caráter da Reforma Universitária proposta pela UNE na década de 1960, e construída nos Seminários sobre o tema. Através da "Declaração da Bahia" e da "Carta do Paraná", a UNE conseguiu construir uma proposta fundamentada na realidade do Brasil. Durante os últimos anos, o que temos visto, ao contrário, é uma entrega dessas bandeiras e uma defesa cega de qualquer proposta do governo para a educação.

    Quando pensamos na expansão da universidade, não queremos um direito de matrícula, mas acesso ao conhecimento. Queremos uma Universidade capaz de libertar, democratizando, em níveis profundos, as estruturas de nossa sociedade.

    O REUNI, por exemplo, aprofunda as desigualdades dentro e fora das universidades federais, expande a universidade sem garantia de verbas, sem assistência estudantil. É a universidade dos ?pobres?: pobre em qualidade, pobre em produção de conhecimento, pobre em assistência estudantil. O resultado está aí, faltam salas de aula, professores, sobram problemas.

A interiorização concentra os maiores problemas. A falta de campus próprio da universidade, e os convênios com prefeituras locais deixam os estudantes ?na chuva?. Por qualquer motivo podem ser abertos ou fechados cursos, de acordo com a vontade dos prefeitos e administrações locais. No Rio de Janeiro, por exemplo, quando os municípios foram ameaçados de perder os royalties do petróleo, muitos cursos ficaram por um fio.

    Assistência estudantil nem se fala. A meta é dobrar o número de estudantes com a menor verba possível. Nessa conta, assistência estudantil não é prioridade. Moradia, bandejão, bolsas, creches universitárias, bibliotecas se tornaram dispensáveis. Quem fica na mão somos nós.

Cursos Pagos e Fundações. Parece estranho falar sobre cursos pagos quando se fala em universidade pública. Se você é de universidade particular, saiba que, nas públicas, muitos estudantes também pagam mensalidades. Se você é de uma universidade pública, de alguma forma, já deve estar familiarizado com esta realidade.

A grande maioria dos cursos de especialização nas universidades brasileiras é pago. Utilizam o espaço mantido pelo dinheiro público e cobram pelo ensino oferecido e, pior, pouco ou quase nada desse recurso volta para a universidade. A Constituição Federal deixa claro: todo ensino em estabelecimentos oficiais é regido pelo princípio da gratuidade (artigo 206, IV, CF).

O fato é que esses cursos existem e se espalham. Justificados pela falta de recursos para o Ensino Superior, a universidade abre mão de oferecer um ensino público e gratuito em todos os níveis de ensino, iniciando-se um processo interno de privatização. Esses recursos, administrados pelas ?Fundações de Apoio?, vão sabe-se lá pra onde. As denúncias de corrupção, falta de prestação de contas, lixeiras com valores absurdos, gastos com lingeries, compra de apoio político e favorecimento pessoal são denúncias comuns envolvendo as fundações e os cursos pagos.

O Coletivo Levante vem construindo nas universidades diversas iniciativas para dar fim aos cursos pagos, seja por meio de denúncias ao Ministério Público, caso da UFRGS, ou de processos internos de lutas. Em 2010, construímos, na UFF, o plebiscito dos cursos pagos e a comunidade acadêmica decidiu majoritariamente pela gratuidade em todos os níveis de ensino. Uma grande vitória para o Ensino Superior brasileiro e mais um passo para construção de um outro modelo de universidade.

NOVO ENEM: Um ?novo? enredo para o velho vestibular

As diversas passeatas frente aos problemas e desrespeitos de uma edição da prova do ENEM esse ano colocam uma pergunta: afinal, quais são as raízes desse exame que levam, ano após ano, a tão desastroso quadro na sua aplicação?

Bom, precisamos lembrar que, antes de tudo, o Novo ENEM é a apropriação do exame nacional criado pelo FHC (lembram-se dele?) para servir como processo de seleção para as universidades públicas e bolsas do PROUNI nas particulares.

            Começam aí os problemas, pois ao instituir um exame nacional único como forma de acesso para todas as universidades, ele desconsidera as desigualdades em termos de qualidade do ensino básico e especificidades entre as diferentes regiões do país, como as necessidades de conhecimentos e conteúdos específicos para cada realidade social local na qual a universidade é referenciada.

            Em outras palavras, o governo no novo ENEM passou por cima tanto da autonomia das universidades, na formulação de quais conhecimentos devem exigir, quanto na das escolas, que são obrigadas a adequar seu currículo ao exigido pelo exame para seus alunos não serem prejudicados, independente dos projetos político-pedagógicos que suas comunidades tenham deliberado. Isso só foi possível privatizando o vestibular (no caso, o ENEM), produzido por fundações privadas e sem a fiscalização de professores, alunos e funcionários de cada universidade, ficando mais sujeito a erros, fraudes e problemas como os apresentados.

            Além disso, ao incentivar a competitividade entre os estudantes como forma de acesso ao que deveria ser um direito universal, o governo transfere para eles a responsabilidade de garantirem seu acesso ao ensino superior, garantia que é dever do Estado e da sociedade, e passa por condições sócio-econômicas e de ensino igualitárias para todos. A educação não é mais processo coletivo, mas realização pessoal, motivo pelo qual se pode obter diploma através do ENEM sem ser necessário cursar ensino médio, ou seja, vivenciar questionamentos propostos por professores e escolas. Dessa forma, gastos com educação não devem aumentar, como não aumentou significativamente nos últimos 8 anos.

Num quadro desses, a elite econômica e cultural, privilegiada pelo acesso à cultura e ensino médio qualificado, permanece ocupando as melhores vagas de todo Brasil nos poucos centros de excelência públicos que continuam após o REUNI fazendo pesquisa, ensino e extensão de relativa qualidade. Aos demais, cabem as vagas nas universidades públicas que só oferecem ensino em cursos rápidos e genéricos ou as bolsas do PROUNI que preenchem vagas vazias em universidades privadas falidas salvas pelo dinheiro do governo. Mesmo que alguém, que não for privilegiado, consiga passar nesse exame, que privilegia mais a resistência física do que a análise crítica, para uma universidade de ponta em outro estado, não conseguirá estudar lá por falta de assistência estudantil como transporte, alojamento e bolsas.

Após essas considerações, terminamos o que começamos com um questionamento: Qual é então o acesso à universidade que queremos?

Entendendo que, enquanto existir exames para o acesso às restritas vagas da universidade pública, ele deverá ser universalmente gratuito, característica limitada do ENEM.

Defendemos que, no Brasil, cheguemos ao livre acesso ao ensino superior, realidade de países mais pobres que o nosso, onde a educação não é definida em gabinetes de ministros e contratos com empresas.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

A história do movimento estudantil brasileiro é em grande parte a história da disputa da educação brasileira para um projeto popular de universidade e educação pública universal, crítica, autônoma, baseada em democracia paritária participativa e socialmente referenciada. Esse projeto, de transformar a universidade no espaço intelectual de combate de todo povo brasileiro frente a todas as opressões  foi síntese formulada na unidade cotidiana entre docentes, estudantes e demais profissionais no enfrentamento da permanente precariedade do ensino brasileiro.

Se nos anos 60 e 70 esse projeto se manifestou na forma da ?Declaração da Bahia? e da ?Carta do Paraná? fruto de seminários no Brasil inteiro, sua última grande expressão foi, nos anos 90, o Plano Nacional de Educação. Essa formulação dos movimentos sociais ganhou a sociedade de tal forma que as principais bandeiras foram aprovadas pelo congresso nacional tiveram que ser vetadas por FHC. 7% do PIB pra educação, substituição do Vestibular por outras formas de  acesso a universidade, democracia na gestão escolar e universitária.

Cada vez mais a educação e a produção de conhecimento transformavam-se em mercadorias a serem consumidas, e não mais um dever do estado. Os empresários do ensino, donos das universidades privadas, ganharam rios de dinheiro. As empresas privadas avançavam sobre uma universidade carente de recursos e determinavam o conteúdo a ser produzido.

O governo Lula seguiu aprofundando a polí¬tica neoliberal de FHC. Além da manutenção dos vetos ao PNE, seguiu com um corte sistemático de verbas destinadas à  Educação. A luta histórica dos movimentos ligados à  Educação é pelos 10% do PIB; os vetos se deram sobre o aumento de 7% do PIB destinado à Educação, mantendo menos de 4% do PIB.

No entanto, a transformação fundamental foi promovida pela Reforma Universitária (conjunto de medidas provisórias, decretos e projetos de lei) do governo Lula, um duro ataque da história do ensino superior público brasileiro.

 A tática de aprovar de forma fatiada, através da legislação específica, significou driblar a resistência organizada de estudantes, professores e funcionários. Porém, não podemos esquecer que as medidas possuem um norte comum que é a crescente desresponsabilização do Estado em financiar a Educação.
 
No entanto, para aqueles que se distanciaram desta realidade, através de uma estrutura burocrática como a direção majoritária da UNE, e formulam política ouvindo reitorias, governos e não sua base, essa experiência foi esquecida para legitimar os vetos ao PNE.

É inclusive na disputa sobre a educação que ficou latente, nos últimos anos, a desigualdade profunda entre o tamanho da UJS na UNE e seu peso real no movimento. Cada política educacional defendida pela direção majoritária da UNE nos últimos anos foi rechaçada, seja nas ocupações de reitoria barrar o REUNI, nos boicotes massivos ao ENADE promovidos pelas Executivas de curso, ou nas passeatas contra o Novo ENEM.

QUE SE PINTE DE NEGRO

Não podemos começar a falar sobre cotas e dissociar da questão racial na sociedade brasileira. Estamos falando de um país que aboliu há pouco mais de 100 anos a escravidão, que tem um grupo social que concentra os piores índices de acesso ao trabalho e à renda, bem como aos serviços básicos ditos universais. Estamos falando de universidades que possuem diminutas percentagens de negros entre seus estudantes, e se pensarmos nos professores nem se fala.

Esse é um debate que já se estende há alguns anos. Importantes universidades têm discutido o tema e adotado cotas raciais, sociais ou mesmo outros mecanismos de ação afirmativa, no sentido de permitir o acesso ao ensino superior de grupos sociais como negros e pobres. Ainda assim, a resistência é grande em outras universidades onde o conservadorismo perpetua.

    Primeiramente, ação afirmativa se trata de um conjunto de políticas que visam reparar aspectos discriminatórios, que impedem grupos sociais específicos de ter acesso aos seus direitos e oportunidades. A adoção de ações afirmativas é prevista pela Constituição, e é necessário que saibamos quando e como usá-las.

    Em se tratando da questão educacional muitas vezes nos vemos diante da discussão da necessidade de se investir no Ensino Básico público para melhorar a formação dos jovens que tentam o vestibular. Porém, pesquisas mostram que o percentual de negros vai diminuindo conforme avançam as séries escolares, de modo que na 4ª série são 46,7%, na 8ª 40,6%, e no 3º ano do ensino médio são de apenas 36,1%. Ou seja, a evasão escolar atinge mais os negros que outros grupos sociais.

    A sociedade brasileira é cortada pela desigualdade social com a especificidade dos negros que são maioria das classes mais desfavorecidas. Temos a clareza que a resolução dessa desigualdade não passa apenas pela universidade, mas a universidade que pensa a sociedade não pode fechar os olhos diante desse problema. Portanto, as cotas raciais devem ser vistas como um mecanismo de reparação pontual e temporário, devendo a melhoria da educação como um todo ser o norte das nossas ações. Sendo uma medida pontual, as cotas têm seus limites e por isso são tão importantes e devem ser adotadas rapidamente.

    O coletivo Levante! participou da luta dos estudantes da UFRJ, que conseguiram recentemente vencer o conservadorismo e implantar cotas sociais no vestibular. Queremos agora avançar na conquista das cotas raciais.

A NOSSA LUTA É TODO DIA, SOMOS MULHERES E NÃO MERCADORIAS!
Por que nem!
Toda feiticeira é corcunda.
Nem!
Toda brasileira é bunda.

Vamos fazer um exercício de observação? Não precisamos ir muito longe, vamos olhar nesse próprio Congresso ou tentar lembrar do cotidiano de nossas Universidades. Comecem a reparar na quantidade de mulheres que fazem falas em assembléias, ou estão presentes nas conversas entre os diversos coletivos ou assumem papel de direção nas mais variadas entidades representativas do movimento estudantil. Agora olhe a quantidade de homens.

Por outro lado, tentem ver quantas mulheres cumprem tarefas como panfletagem, ou relatoria de reuniões ou ficam responsáveis pela organização do espaço e depois olhem o número de homens. Repararam algum padrão? Pois é, mesmo o movimento estudantil que deve ser um instrumento para a transformação radical da sociedade pratica em seu dia a dia o machismo, delegando tarefas ditas 'secundárias' para as mulheres e deixando as tarefas mais 'importantes' para os homens. Mesmo na UNE, dos 21 diretores divulgados em seu site oficial, apenas 3 são mulheres.

Agora vamos ampliar esse exercício pro resto da sociedade. As meninas não costumam ter como brinquedos bonecas, vassourinhas, geladeirinhas? E os meninos não ficam com as bolas e carrinhos? Tente olhar no mundo do trabalho a quantidade de mulheres trabalhando e o salário que elas recebem. Veja nas Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas e conte quantas mulheres e homens existem. Nós podemos observar diversos setores da sociedade, desde a família até as empresas, mas nossa conclusão será sempre a mesma: Há uma desigualdade gritante entre homens e mulheres e isso precisa acabar.

Para mudar esse quadro temos muitos desafios a vencer. Dentro da própria Universidade existe uma educação sexista que naturaliza a opressão e relativiza suas consequências. É dela que sai aqueles que irão reproduzir o status de mercadoria do corpo da mulher nos comerciais. Também é dela que sai os professores que, por não terem tido acesso a estudos ligados ao tema, ignorarão as lutas das mulheres como agentes transformadoras da história. Precisamos de um ME que combata essa mídia, essa educação.

Vivemos um período único na história do país, onde foi eleita nossa primeira presidenta que, entretanto, em sua campanha desconstruiu várias pautas históricas do movimento das mulheres ? como a legalização do aborto. Em seu discurso manteve aceso o conservadorismo ao reforçar a imagem da mulher enquanto mãe e mantenedora da casa e da família. A política deve ser feita pelas mulheres e para as mulheres e por isso dizemos, não basta ser mulher tem que ser feminista.

O coletivo Levante! chama tod@s para levantarem suas vozes contra o machismo nas Universidades, na mídia, na política, no ME, na cultura. Um mundo sem opressão é possível!

BOXE: Nesse ano o Dia Internacional das Mulheres ? 8 de Março ? será na terça feira de Carnaval. Para quem for passar o carnaval no Rio de Janeiro venha construir também o bloco Maria vem com as outras.


MEGAEVENTOS ESPORTIVOS E A CRIMINALIZAÇÃO DOS POBRES
 
O Brasil e o Rio de Janeiro já se preparam para nos próximos anos receber eventos de grandes proporções, os maiores deles são a Copa do Mundo em 14 e as Olimpíadas em 16. Aparentemente tudo muito bom, pois quem não gosta de esporte, de futebol ou de fazer festa? Depois de muito procurar, poderíamos encontrar quem não goste; mas certamente esse não seria o caso do povo brasileiro.

Mas não se enganem, apesar da propaganda da grande mídia e dos governos, esses chamados Megaeventos não estarão por aqui para alegrar a vida do povo, ou deixar um ?legado? para as brasileiras e os brasileiros. Nesse cenário, tanto a cidade, quanto os megaeventos esportivos estão inseridos numa lógica muito perversa, em que o que conta é dinheiro no bolso de grandes empresas e organizações esportivas.

Para receber tais jogos, a cidade, como uma mercadoria, deve passar por transformações que possibilitem a geração de mais lucros. Requer a chamada ?pacificação?, justificando o uso de meios violentos, de assassinatos promovidos pelo Estado e de violações de direitos. Todo um território, a favela, é criminalizado e sua população sofre conseqüências graves. A ausência do Estado em levar direitos básicos como moradia, educação, saúde, lazer, emprego, saneamento, etc., casada com sua forte presença através de seu braço armado, é um verdadeiro esculacho em milhões de homens e mulheres moradores de favela. Existe um Estado de Exceção permanente em determinadas áreas das cidades.
Podemos ainda falar das remoções. Dezenas de comunidades estão sendo, ou serão, removidas no chamado ?corredor olímpico?. Ou ainda, das próprias UPP?s (Unidade de Polícia Pacificadora), que também se inserem na lógica do mercado, dessa vez, no ?corredor hoteleiro?. Está em curso, a implementação de um projeto de cidade que desrespeita os direitos humanos, que, no Rio de Janeiro, por exemplo, produz a polícia que mais mata e morre no mundo.

Nós do Levante! estamos inseridos em outro projeto, das ocupações e outras iniciativas na luta por moradia, contra de criminalização da pobreza, pela valorização da cultura da Favela, como o Funk, por direitos como saúde, educação, cultura nas favelas e periferias. Enfim, superar a lógica do mercado e do lucro pela valorização das pessoas e da vida.
 
 
Associação Nacional dos Torcedores: ?Sem torcedor não há futebol, sem futebol não há alegria?
Rapidamente queremos expressar nossa esperança em um recente e importante instrumento de luta no âmbito do esporte: A Associação Nacional dos Torcedores (ANT). Essa iniciativa tem agregado torcedores de todos os estados do Brasil, de todos os times, para lutar contra a elitização do futebol. Lutar para baixar o preço dos ingressos; contra o fim de áreas populares, como a Geral do Maracanã; contra a utilização dos megaeventos para remoções e promover perda direitos... enfim, contra a elitização do futebol. Vale a pena conhecer e chegar junto. Você só precisa ser torcedor e estar indignado com toda essa situação.
Conheça mais (através de vídeos, textos, fotos...) e filie-se a ANT em torcedores.org.


    #HOMOFOBIA NÃO

A luta por um mundo mais justo e equilibrado passa, necessariamente, pelo entendimento de que transcendemos a economia. Não há mais como ser socialista sem agregar feminismo, ecossocialismo e o combate às opressões específicas raciais, etárias, sexuais. À luta de classes foram somadas opressões sobrepostas, que aumentam o abismo entre aqueles que dominam e @s trabalhadores.

    O anticapitalismo, como premissa, tem que ser estendido também àquilo que entendemos como subjetividade: nossas relações afetivas e sexuais. Em um mundo liberal, que transforma nossos afetos em commodities, a luta por direitos, apesar de trazer avanços, em si só não basta. Temos que questionar continuamente as estruturas familiares (brancas, heterossexuais, ocidentais, patriarcais) que sustentam o capital e oprimem os desprovidos da terra.

    O Movimento LGBT , desde a nossa perspectiva, tem que estar ombro a ombro com as mulheres, contra a violência e pela legalização do aborto; com os movimentos de negros e negras e com a Juventude, contra a criminalização e pela preservação da vida.
    Para além das demandas tradicionais do Movimento LGBT como direito à uniã

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