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Uma segunda chance

[Uma segunda chance]

Berna Menezes Secretária Nacional de Comunicação do PSOL

 

Ufa! Ganhamos! Uma explosão de alegria nas praças, nas ruas, nas casas, nas mais diversas famílias, nas periferias, nas favelas. 

Na verdade, foi um mutirão. Povo nas ruas, Justiça sob o comando de Alexandre Morais, imprensa sob direção da Globo/Folha de São Paulo, Congresso sob comando de Rodrigo Pacheco e partidos da direita tradicional com diversos comandos (Alckmin, Tebet, Helder, etc.). Mesmo assim foi por pouco. A utilização do aparelho do Estado através de diversas bolsas sociais entregues às vésperas das eleições e do orçamento secreto e, particularmente, a condução da PRF conseguiram muito, mas não o suficiente para alcançar uma vitória. Quem defendeu que a luta de classes acabou, caiu do cavalo. Foram milhares de casos de assédio de empresários sobre trabalhadores de suas empresas. E, parte dos golpistas de 2016, assustados com o monstro que acordaram, correram para Lula, o único capaz de derrotar a fera. As lideranças internacionais, da esquerda ao imperialismo - sim ele existe e atua, vide ofensiva da OTAN sobre a Federação Russa - apoiaram imediatamente a vitória de Lula.

Hoje, os brasileiros acordaram em um país diferente. A terra voltou a ser redonda; a ciência volta a nos orientar; nossa querida Amazônia deve sobreviver; a arte e a cultura não são mais um pecado mortal; o racismo, a homofobia e a violência contra as mulheres voltam a ser crimes; Venezuela e Cuba não vão mais estar isolados. Aliás, obrigada América Latina, foram seus ventos e cantos, vindos do Chile, da Colômbia, do México que nos emocionaram, que acalentaram nossos sonhos da Pátria Grande de Bolívar, da Pachamama de nossos povos originários. 

Os grandes ausentes desta campanha foram os Sindicatos. O sindicalismo brasileiro, grande força na política nacional nos últimos 50 anos, estava embaixo da cama. Foram poucas agremiações que deram a cara para bater, muito triste. Refletiram a fragilidade da nossa classe e a covardia de seus dirigentes. Parabéns aos que tiveram coragem de enfrentar Bolsonaro e politizar a base dos nossos sindicatos pois o que o segundo turno mostrou, é que só a mobilização social pode garantir a vitória. 

Ainda é tempo, agora começa o terceiro turno. O bolsonarismo vai reduzir, mas se manterá como corrente de ultradireita organizada no país. E, a direita tradicional, aliada do campo vitorioso, não desistiu de sua agenda. Portanto, meus e minhas caras, viramos uma página triste da história brasileira, mas a velha e atual luta de classes segue. E, a mobilização será decisiva!

Agora, passada a ressaca da vitória começa a vida real. Como governar para gregos e troianos. Qual a âncora fiscal que substituirá o teto de gastos? Vai ceder a Globo sobre o orçamento? Que nova Lei Trabalhista vai surgir? E a relação com agronegócio, como será? Vamos saber por fim quem mandou matar Marielle?

Lula em seu discurso escrito pareceu bem mais maduro. Só que eu, que já chorei de emoção no discurso de Lula na Paulista em 2002 e em janeiro de 2003 me senti traída com a Reforma da Previdência, estou sempre com pé atrás. 

Mas bem, vamos aproveitar a lua de mel, pois 2023 promete.

Lutemos pelo sonho de muitas gerações e pela vida de muitos lutadores. Nestes 100 anos de Darcy Ribeiro, teremos uma nova chance de lhe dar de presente, enfim, uma vitória. Relembrando suas palavras:

"Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã, como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e com todas as culturas. E porque assentada na mais bela e luminosa província da terra."

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